As Tops do Kacic:: Crítica – Apostando Tudo (Win It All)

A maioria das pessoas que forma o público cinematográfico se identifica com um determinado tipo de personagem. Alguns gostam dos heróis, outros admiram mais os vilões. Eu sempre preferi aqueles que andam na margem entre os dois. Mais precisamente, dos heróis trágicos, que carregam consigo a perigosa tendência de passar a ser o vilão. É nesta categoria peculiar que se encaixa um determinado subgrupo de personagens cinematográficos: os viciados em jogos de azar.

Filmes como o hilariante A Grande Barbada (Let It Ride, 1989), onde o impagável Richard Dreyfuss interpreta um apostador inveterado das corridas de cavalo; ou os recentes O Jogador (The Gambler, 2014), protagonizado por um Mark Wahlberg viciado em pôquer (filme que por sua vez é um remake da produção homônima de 1974, protagonizada por James Caan); até o surpreendente Mississippi Gring (2015), protagonizado pela ótima dupla Ryan Reynolds e Ben Mendelsohn, nos papeis de dois viciados em qualquer tipo de jogo de azar, são ótimos exemplos, entre tantos outros, de produções com esta temática.

Agora em 2017, mais um digno exemplar deste subgênero de Hollywood acaba de se juntar ao seleto rol: este divertidíssimo Apostando Tudo (Win It All, EUA, 2017), nova produção original da gigante Netflix, que além de se consolidar disparadamente como a melhor produção do selo, ainda introduz mais um personagem inesquecível à galeria destes homens que se necessário, apostam suas próprias vidas para sustentar seu vício.

O personagem da vez é o boa-praça Eddie (Jake Johnson, de Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros), um viciado nos mais variados tipos de jogos de azar, desde o bom e velho pôquer, passando pelas corridas de cavalo, e chegando até qualquer tipo de competição onde Eddie possa vir a arriscar seu dinheiro. Sem emprego, devendo na praça, e sendo sempre repreendido por seu irmão Ron (Joe Lo Truglio, de Superbad: É Hoje!) e seu amigo Gene (Keegan-Michael Key, de Keanu: Cadê Meu Gato?), Eddie parece não encontrar um rumo na vida.

Numa tarde qualquer, Eddie recebe a visita de um velho conhecido, que digamos, também não é nenhum cidadão modelo. O homem então faz uma proposta de negócios à Eddie: a de apenas guardar uma bolsa de ginástica em seu apartamento, enquanto ele cumpre uma pena de seis a nove meses na penitenciária. Em troca, ao sair da cadeia, o criminoso pagaria a Eddie o valor de dez mil dólares, desde que, é claro, tudo estiver OK com a bolsa. Eddie topa a proposta, mas ao vasculhar o conteúdo da tal bolsa (mesmo contra o conselho do bandido), ele decide tomar uma perigosa decisão, que pode complicar de vez a sua já enrolada existência.

Apostando Tudo marca a terceira colaboração entre o diretor Joe Swanberg e o ator Jake Johnson. Ambos trabalharam juntos em Um Brinde à Amizade (Drinking Buddies, 2013) e Quem Procura Acha (Digging For Fire, 2015). Aqui, dividindo os créditos de roteiristas, Johnson e Swanberg constroem um filme agradabilíssimo, alto-astral e bastante engraçado. Johnson esbanja carisma no papel do perdedor que de imediato ganha a empatia do espectador, que acompanha a tortuosa e agoniante jornada de um homem que simplesmente não sabe quando parar. O elenco de apoio está impecável, com destaque para os sempre engraçados Joe Lo Truglio e Keegan-Michael Key, que interpretam o irmão e o melhor amigo do protagonista, respectivamente.

O enxuto e direto roteiro da produção coloca protagonista e público em uma movimentada e imprevisível montanha-russa de emoções, e boas e más decisões, tudo sempre embalado em um clima gostoso e simpático, onde Swanberg e Johnson nunca esquecem da importância das conexões humanas, que divertem o espectador. São várias as sequências em que diálogos valiosos surgem das mais simples interações do personagem central, seja com os coadjuvantes já citados, como também com uma possível nova paixão em sua vida, a bela enfermeira Eva (a mexicana Aislinn Derbez). As cenas em que Eddie e Eva estão se conhecendo são deliciosas, e aquecem o coração do público.

Mas como o que realmente interessa é a quase insana jornada do protagonista em meio às mesas de apostas, Apostando Tudo não decepciona no quesito, e as incursões de Eddie à este perigoso mundo dos jogos de azar dão a tônica do filme, que mesmo em meio a um cenário de tensão, diverte a cada segundo, do início ao fim, e em nenhum momento decepciona o espectador. Finalmente a Netflix acertou em cheio nas suas investidas cinematográficas.

Apostando Tudo está disponível no catálogo da Netflix.

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