Crítica: Cardboard Boxer (2016)

É impressionante como algumas produções surgem simplesmente do nada. É o caso deste drama Cardboard Boxer (EUA, 2016), produção singela, produzida e protagonizada pelos competentes Thomas Haden Church (Homem-Aranha 3, 2007), e Terrence Howard (Ritmo de Um Sonho, 2005), e que conta também com a produção do ascendente Josh Boone, diretor e roteirista do mega-sucesso A Culpa é das Estrelas. Completamente fora dos radares, Cardboard Boxer surgiu para mim como uma total e grata surpresa, que leva à reflexão e emociona de maneira genuína, ainda que exija um pouco de tolerância do espectador com sua conclusão um tanto imaginativa demais.

No filme, Church interpreta o sem-teto Willie que, assim como seus companheiros de rua, vive um dia após o outro, mendigando alguns poucos dólares para não morrer de fome e frio. Neste seu triste e solitário dia a dia, Willie busca apenas alguma companhia a quem possa chamar de amigo, já que, segundo o próprio personagem, o único medo que ele tem é o de morrer completamente sozinho. Em meio à sua busca por uma improvável redenção, Willie acaba entrando em um degradante esquema de lutas clandestinas, ao mesmo tempo em que encontra, em uma caçamba de lixo, um diário que teria pertencido à uma garotinha, e que cujo conteúdo acaba dando um sopro de esperança ao sofrido sem-teto.

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A vida nas ruas já rendeu grandes exemplares cinematográficos. Produções como Alguém Para Dividir os Sonhos (The Saint of Fort Washington, 1993), protagonizada por Matt Dillon e Danny Glover, e os recentes O Encontro (Time Out of Mind, 2014), protagonizado por Richard Gere, e Viver Sem Endereço (Shelter, 2014), que conta com uma magnífica performance de Jennifer Connelly, expuseram de maneira pungente e realista a extrema dureza da vida sem um teto, sem um lar para chamar de seu. Com este Cardboard Boxer, apesar do tom um pouco mais leve, não é diferente. E algumas passagens da produção são realmente de partir o coração.

A sofrida rotina do protagonista nas ruas, e suas interações com os coadjuvantes da produção, garantem ótimos momentos ao filme. Terrence Howard, no pequeno mas importante papel de um taxista, ele próprio um ex-morador de rua, e o jovem e talentoso Boyd Holbrook (o vilão do aguardado Logan, último filme de Hugh Jackman como o mutante Wolverine), no papel de um ex-soldado que após perder as pernas na guerra, passou a viver nas ruas, são duas peças importantes no desenvolvimento do protagonista, que aos poucos, vai revelando um grande coração e um caráter nobre, mesmo em meio à tanta tristeza ao seu redor.

O filme reflete bastante sobre o tema da solidão da vida nas ruas. De todos os possíveis medos do protagonista, a solidão é o que mais o incomoda, a ponto de fazer do diário que encontra no lixo, uma companhia para suas longas caminhadas sem destino certo. Tal foco no tema valoriza ainda mais a bela atuação de Thomas Haden Church, que mesmo contida, é magnética e comovente.

A produção perde alguns pontos com a questão das lutas clandestinas em que o protagonista se envolve, especialmente com os jovens que organizam o “evento”, todos em atuações forçadas e caricatas. A conclusão da produção também requer um pouco de credulidade por parte do público. No entanto, a sequência é montada de maneira tão bonita e edificante, que definitivamente a emoção fala mais alto, e é bem possível que a grande maioria do público prefira embarcar de vez na sequência. Afinal, entre tanta dor e sofrimento, um sopro de esperança é sempre bem-vindo.

Mesmo retratando a vida nas ruas de maneira singela e até um tanto manipuladora em alguns momentos, Cardboard Boxer é mais um válido exemplar do gênero, que emociona em meio à cenários de imensa angústia e tristeza, e onde brilha a atuação honesta de seu protagonista, dono do filme.

Cardboard Boxer não tem previsão de estreia no Brasil, e deve chegar ao serviço de streaming e home-video.

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