Crítica: I Am Mother (2019)

Exibida no badalado Festival de Sundance deste ano, a sci-fi I Am Mother (AUS, 2019) foi adquirida pela Netflix, que ultimamente tem se especializado em produzir e adquirir este tipo de conteúdo, em diferentes níveis de qualidade. I Am Mother bebe na fonte de bons filmes como Rua Cloverfield 10 e O Exterminador do Futuro 2, porém, o filme se esbalda mesmo é na fonte dos clichês. E ainda que Clara Rugaard (do vindouro Teen Spirit) entregue uma impactante performance central, e o diretor estreante Grant Sputore conduza o filme com habilidade, a natureza derivativa do filme impede a produção de alçar vôos maiores. Sem falar nas excessivas reviravoltas da trama, que acabam diluindo demais o impacto da premissa.

O filme tem início em um bunker abandonado e bastante limpo, um dia depois da humanidade ser completamente aniquilada devido à um E.L.E. (evento que leva à extinção). “Mãe” (voz da atriz Rose Byrne, de Sobrenatural, 2009), um robô antropomórfico, foi colocado como a responsável por cuidar de 63.000 embriões humanos, a última esperança de trazer de volta a raça humana. O robô seleciona um destes embriões para nutrir e criar, e entra em cena “Filha” (Rugaard), que vive sua vida como o único ser-humano da Terra, presa aos corredores estéreis de um labiríntico laboratório científico.

A garota não parece se importar com isso, e até demonstra afeição e amor com relação à Mãe. A jovem passa por um rigoroso exame de saúde todos os anos, para mapear seus níveis de conhecimento, perícia física e até seu grau filosófico, e a Mãe explica que estes testes tem serventia tanto para ela quanto para a Filha, já que Mãe utiliza estes testes para aprender como ser a melhor professora possível para uma nova geração da humanidade que venha a surgir. De fato, depois que a Filha atinge um certo nível de conhecimento, o plano é selecionar um segundo embrião e assim dobrar a população humana.

No entanto, toda a realidade da Filha é colocada em questão quando numa noite, uma mulher ferida (a duas vezes vencedora do Oscar Hilary Swank, de Menina de Ouro e Meninos não Choram), chega ao local e Filha a deixa entrar. A história da mulher é convincente e completamente contrária à tudo o que a Mãe ensinou para a Filha durante todo este tempo, o que força a garota a questionar toda sua educação, iniciando uma alternância entre suas alianças com a estranha que chegou, e sua matriarca robô.

Depois da entrada da estranha em cena, muitas outras reviravoltas acontecem ao longo da trama, e mesmo que eu não solte nenhum spoiler, não há nada que você já não tenha visto antes em outras sci-fis. Não há nada de errado em trabalhar com alguns clichês da ficção-científica, desde que seus personagens e seu tema central tenham força o suficiente para manter a história com um ar de originalidade. Infelizmente, no caso de I Am Mother, parece que os cineastas não têm a confiança necessária em sua história e acabam apenas inserindo novos twists na trama. E tematicamente falando, o filme tem problemas em adicionar algo de novo relacionado ao advento da Inteligência Artificial e à natureza auto-destrutiva da humanidade.

Ao menos a dupla de protagonistas é forte o bastante para carregar o filme nas costas. Rugaard realmente impressiona em um papel exigente, especialmente quando sua personagem é forçada a ficar frente a frente com outro ser-humano pela primeira vez. Rugaard demonstra confiança e mostra-se segura de si ao transmitir a elegância e a força interior da Filha. Swank encarna o modo Linda Hamilton em O Exterminador do Futuro 2, e neste aspecto ela entrega o necessário mais uma vez. Entretanto, o roteiro do também estreante Michael Lloyd Green quer tanto que o espectador tente adivinhar as intenções da personagem, que Swank acaba não tendo uma chance real de adicionar alguma nuance a ela. O espectador passa a maior parte do tempo se perguntando se a história dela realmente é verdadeira.

Além da boa premissa inicial, o design do robô também é bacana, assim como a tecnologia envolvida na produção. Mas quando a poeira abaixa um pouco, I Am Mother no final das contas fica devendo. E são tantas as reviravoltas que surgem em seu terceiro ato, que a confusão toma conta do público, colocando a força emocional da trama em segundo plano. Isso se reflete no clímax nada sutil da produção. Resumindo, I Am Mother tem tudo e simultaneamente não têm nada em seu cérebro positrônico. O filme mantém o mistério e por consequência prende o espectador, mas quando chega a hora das revelações, tudo é derivativo ou estático. Logo, insatisfatório.

I Am Mother estreia no catálogo da Netflix no dia 07 de Junho.

2 respostas

  1. A credibilidade da premissa é próxima de zero. É lento, tedioso e chato,,, muito chato. Mas recebe algumas boas críticas porque tem um elenco feminino politicamente correto. E o final é.. bem.. não tem final!!! O que faz a festa dos YOUTUBERS “criticos de cinema” que vão fazer vpídeos “… explicando o “final” do filme….mais um filler da NETFLIX enganando seus assinantes.

  2. Amo filmes, até os ruins kkk Na verdade, gosto de apreciar num todo, cenário, núcleo, iluminação, roteiro, etc. Mas gosto muito de finais menos confusos kk Ainda que tenha que alguns finais fiquem subentendido, é preciso ser tendencioso, chegar no final e ficar especulando… Não entendi mts coisas, ao mesmo tempo q a mãe escolheu um embrião para prepara-lo, dá entender que já fez isso várias vezes antes, se não for como espera, incinera. Como foi encontrado parte da arcada dentária.

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