Crítica: Loving (2016)

O drama Loving (EUA, 2016) era um dos filmes que eu mais aguardava para este ano, desde que as primeiras divulgações sobre a produção começaram a chegar pela internet. O motivo principal, é a reunião de três dos grandes nomes que surgiram para a cena cinematográfica nos últimos cinco anos: O ator Joel Edgerton (de O Presente, e Warrior: Guerreiro), a atriz Ruth Negga (de Warcraft: O Primeiro Encontro de Dois Mundos e da série Preacher), e o diretor Jeff Nichols (de Mud: Amor Bandido e Destino Especial). E de fato, a produção é realmente muito acima da média, unindo com efetividade o talento do trio citado, com uma envolvente e emocionante história verídica.

Loving conta a história do casal Mildred (Negga) e Richard (Edgerton). Ele, branco. Ela, negra. Em 1958, auge dos conflitos raciais nos Estados Unidos, Richard e Mildred decidem se casar escondido das autoridades do estado da Virgínia, onde moravam, e onde o casamento interracial era proibido por lei. A dupla então se casa em Washington D.C., porém, quando retornam à Virgínia, Richard e Mildred recebem voz de prisão dentro da própria casa, e são mandados para a cadeia pelo ato de se casarem. Começa então uma longa luta do casal por seus direitos civis, numa trajetória sempre marcada pelo preconceito, pela intolerância, e pelo imenso amor que sentem um pelo outro.

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Apesar de baseado em fatos reais, não há muito de convencional na abordagem de Nichols para a história do casal protagonista. Os próprios Richard e Mildred, digamos, fogem um pouco do que o público espera de um casal em sua situação. Richard é completamente introvertido, de pouquíssimas palavras e cara sempre fechada. A franzina Mildred não é muito diferente, com sua timidez, seu gestual mínimo e olhar por muitas vezes voltado para o chão. Este peculiar modo de ser do casal (pelo menos na interpretação de Edgerton e Negga), à princípio causa certa estranheza no público, entretanto, aos poucos o espectador vai se acostumando com os dois, e passa a imediatamente torcer por eles.

Falando neles, Joel Edgerton e Ruth Negga estão absolutamente impecáveis em suas interpretações. Negga sempre rouba a cena em toda produção em que dá as caras, mas aqui, é Edgerton quem se sobressai, simplesmente desaparecendo no personagem. A mão firme de Nichols é sentida na entrega do elenco, cujas atuações inserem profundidade e textura na produção, onde também se destacam os desconhecidos Marton Csokas (de O Protetor) e Nick Kroll (da comédia Eu Te Amo, Cara), em papéis menores mas de vital importância no contexto da história. Ah, e é claro que o sensacional Michael Shannon também faz uma pequena participação, já que o ator esteve em TODOS os filmes de Nichols, seja como protagonista, ou como mero coadjuvante. Aqui, Shannon interpreta um fotógrafo da revista Life, que é contratado pelo advogado do casal para registrar alguns momentos de sua convivência. A maneira com que Nichols utiliza o personagem em uma pequena cena no terço final do filme, é de uma delicadeza surreal.

Ambientada em um momento delicadíssimo da história americana, Loving é extremamente relevante. Principalmente porque o roteiro do próprio Nichols, apesar de se arrastar em alguns momentos da narrativa, nunca escorrega para o dramalhão apelativo. Aliás, em nenhum momento a produção força o choro fácil, mesmo com todas as dificuldades enfrentadas pelo casal e retratadas no filme. Isso também é decorrência da própria força do casal, que apesar do medo sempre inerente de que algo poderia destruir sua relação, nunca se entregou e lutou até o fim, cada um à sua maneira, mas sempre, e inexoravelmente juntos. Foi graças à resiliência e caráter dos Loving, que finalmente, depois de muito tempo de uma política absurda e covarde inserida na constituição americana, a proibição do casamento baseado em raça foi abolida.

Entre tantas qualidade da produção, vale ressaltar também a discreta mas bonita trilha-sonora incidental de David Wingo, colaborador habitual do diretor, e também a canção “Loving“, composta e interpretada pelo músico Ben Nichols, irmão do diretor Jeff, e que toca durante os créditos finais da produção.

Historicamente significante e emocionalmente construtivo, este Loving é mais do que a comprovação dos talentos de Nichols, Edgerton e Negga, além de carregar consigo um caráter testamental, que evidencia e exalta o companheirismo, a força de vontade na dor, o cuidado e o respeito, além de, é claro, o amor livre de preconceitos. Amor este que, mesmo oriundo das pessoas mais simples, pode gerar grandes e duradouras transformações.

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