Crítica: Mayhem (2017)

Completamente apoiado no carisma do ex-The Walking Dead Steven Yeun, que interpretava o boa-praça Glenn no seriado hit da AMC, este Mayhem (EUA, 2017) até que surpreende, e consegue a façanha de ser mais do que apenas um veículo para Yeun, que este ano também esteve no ótimo Okja, da Netflix (veja também a crítica do filme aqui no Portal do Andreoli).

Em Mayhem, Yeun interpreta Derek Saunders, um advogado que num belo dia se torna vítima de uma armação de um colega de trabalho, e acaba demitido injustamente. Para piorar ainda mais a situação, neste mesmo dia um vírus infecta boa parte do escritório onde Derek se encontra, transformando quase todas as pessoas do local em loucos homicidas e pervertidos. Agora, preso no prédio sob quarentena, Derek terá de lutar de maneira selvagem não só pelo seu emprego, mas principalmente para sobreviver.

Traduzindo livremente do inglês, o termo mayhem significa caos, e o filme dirigido por Joe Lynch (do thriller de ação Everly, 2014), entrega exatamente o que promete: doses cavalares de caos, salpicadas pela boa e velha carnificina. O filme bebe na inesgotável e sempre divertida fonte da comédia corporativa, esta vertente ácida do cinema norte-americano que rende maravilhas ao gênero, e que por diversas vezes, também flerta com o horror. Como Enlouquecer Seu Chefe (Mike Judge, 1999), Bloodsucking Bastards (Brian James O’Connell, 2015) e o recente O Experimento Belko (cuja crítica você também pode conferir aqui no Portal do Andreoli), são três bons exemplos deste subgênero que gosta de alfinetar os meandros da canibalizada rotina corporativa.

Mayhem centra sua narrativa em torno de um vírus fictício que diminui as inibições do ser humano, funcionando da seguinte forma: Se você está nervoso, exposto ao vírus você ficará ainda mais p… da vida; se está cheio de ódio, o ódio se intensificará com consequências extremas; se você está excitado, é bem provável que em instantes esteja se atracando com quem aparecer na frente. No caso de Derek, que acabou de ser demitido por algo que não fez, o tal vírus acaba funcionando como uma espécie de segunda chance para que ele consiga de volta seu merecido lugar na pirâmide corporativa. Ah, o vírus tem um ciclo de vida de apenas oito horas. Mas para os planos de Derek, é tempo mais que suficiente.

A questão é que Derek não é o único infectado, mas sim todos os funcionários do escritório onde trabalha, que se encontra sob quarentena. Ao lado de sua nova amiga Melanie (a bela Samara Weaving, da recente produção da Netflix The Babysitter), que também tem suas próprias questões a serem resolvidas junto à empresa, Derek deve subir andar por andar para chegar até o escritório da presidência da companhia, que fica no último andar do edifício. Sempre cercados pela carnificina total. Pessoas iradas quebrando tudo, se matando na porrada, outros espalhando lixo e colocando fogo nos móveis ao mesmo tempo em que outra galera está envolvida em uma verdadeira orgia, sem nenhum pudor. Este quadro de caos total oferece o tipo de deleite visual que pede uma reprise, para que o espectador possa capturar todos os detalhes da anarquia que se instaura no escritório e por consequência, na telona.

Quando falamos sobre um filme envolvendo algum tipo de vírus, logo pensamos em grandes quantidades de sangue e vísceras, bem ao estilo TWD de ser. Mayhem entretanto, apesar de derramar bastante sangue, nunca exagera no gore ou na exploração da violência. A violência é mais visceral do que a cara do filme sugere, e Lynch aposta no impacto desta violência, e não nos atos violentos em si.

Yeun está fantástico no papel do anti-herói Derek. Assim como em seu papel em The Walking Dead, o ator consegue convencer tanto quando expõe sua face mais vulnerável, como também quando precisa partir para a pancadaria. Ao mesmo tempo, sua companheira de cena, a estonteante Samara Weaving, também está ótima, chegando a roubar a cena em diversos momentos. A causa de sua personagem provoca a identificação imediata de Melanie com o espectador, e o roteiro do estreante Matias Caruso toca em alguns assuntos reais e pertinentes, cuja importância é ainda mais amplificada graças a toda a carnificina que os rodeiam.

Mayhem é acima de tudo, um filme extremamente divertido. Uma verdadeira anarquia do início ao fim. E muito deste resultado de deve ao fato de que Lynch dá a medida certa de importância para seus personagens e suas motivações. O fato de Mayhem ainda apresentar uma insana edição, à cargo de Josh Ethier (de Pequenos Delitos, cuja crítica você também confere aqui no Portal do Andreoli), é apenas a cereja no topo deste bolo sangrento e muito louco.

Mayhem não tem previsão de estreia nos cinemas brasileiros, e deve chegar diretamente ao país através de serviços de streaming e VOD.

https://www.youtube.com/watch?v=bhTDq2t6UpM

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