Crítica: Os Meyerowitz: Família Não Se Escolhe (The Meyerowitz Stories: New and Selected)

Imagine o pôster ou o trailer de um filme estrelado por Adam Sandler e Ben Stiller. Sendo ambos dois dos comediantes mais conhecidos no mundo todo, fica difícil imaginar que a primeira produção a trazer os dois juntos não seja uma comédia aloprada, como a maioria das produções estreladas por um ou por outro em tantos anos de carreira. Nova produção da Netflix, este Os Meyerowitz: Família Não Se Escolhe (The Meyerowitz Stories: New and Selected, EUA, 2017), não só reúne Sandler e Stiller pela primeira vez na telona, como ainda conta com um excelente elenco de apoio, todos envolvidos em uma produção madura e inteligente, mas obviamente, sem deixar de ser engraçada. Ainda que de uma maneira inesperada pelo espectador.

Escrito e dirigido pelo cineasta de escola indie Noah Baumbach (da comédia dramática cult Frances Ha, 2012), o filme definitivamente traz o melhor papel da carreira de Sandler em pelo menos quinze anos, onde ele interpreta Danny Meyerowitz, o filho mais velho do escultor nova-iorquino Harold Meyerowitz (o sempre excelente Dustin Hoffman, que já dividiu a tela com Sandler na simpática comédia Trocando os Pés e com Stiller nas sequências da comédia Entrando Numa Fria). Em seu quarto casamento, desta vez com uma mulher um pouco mais jovem (a inglesa Emma Thompson, duas vezes vencedora do Oscar), Harold começa a pensar em seu legado.

Apesar de Harold ainda estar trabalhando, a maioria de suas esculturas estão pegando poeira no apartamento da família em Nova York, imóvel que Matthew (Stiller), o outro filho de Harold e consultor de “finanças pessoais” está tentando vender, com as obras do pai inclusas no negócio. Já Danny nunca propriamente trabalhou no sentido convencional da palavra, contudo, ele parece ter feito um bom trabalho na criação de sua filha, Eliza (a excelente descoberta Grace Van Patten).

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Apesar das enormes diferenças entre Danny e Matthew, o filme trabalha de maneira terna e interessante a relação entre os dois, que mesmo depois de anos sem uma comunicação que os aproximasse como irmãos de sangue que são, ainda conseguem descobrir pequenas porém significativas coisas um sobre o outro. A turbulenta convivência da disfuncional família Meyerowitz ainda encontra outro viés na relação entre o patriarca Harold e os filhos, e se aplica também à mãe dos rapazes, interpretada em uma única e impactante cena pela atriz Candice Bergen (Miss Simpatia, 2000), no papel de uma mulher introspectiva, que contrasta com a figura expansiva e boêmia de Harold.

Um estudante de comédias clássicas, Baumbach utiliza-se de espertas estratégias do gênero neste seu Os Meyerowitz, como subdividir sua história em capítulos, de forma a dar uma maior coerência narrativa. Esta estratégia funciona principalmente graças às caracterizações vívidas e multidimensionais de seu formidável elenco. Rodeado de grandes nomes do cinema, Sandler é forçado a atuar, o que é uma coisa maravilhosa de se ver, mesmo para os fãs do ator que preferem vê-lo em suas comédias pastelão.

Talvez seja por isso que a Netflix tenha garimpado esta produção um tanto não-comercial poucas semanas antes de sua exibição no Festival de Cannes. Ainda assim é estranho imaginar que a mesma companhia responsável por Sandy Wexler e The Ridiculous 6 possa render a Sandler sua primeira indicação ao Oscar, além de ser o melhor papel do ator desde Embriagado de Amor, filme de Paul Thomas Anderson lançado em 2002. Ainda assim, há bastante para os fãs de Sandler e Stiller se divertirem, já que Baumbach, é claro, não desperdiça o descomunal talento cômico da dupla, mesmo com ambos inseridos em outro tipo de narrativa.

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Pode o egoísmo de um artista refletir na persona adulta que seus filhos se tornaram? E se estes seus filhos se recuperarem da turbulência e rejeição de suas respectivas infâncias, isso faria de Harold um pai melhor? E o fato de Danny ser um excelente pai, pode fazer com que ele se sinta melhor com relação ao fracasso de sua vida profissional? Estas são questões importantes, todas exploradas de maneira rica por Baumbach em seu roteiro. Ao mesmo tempo, o filme ainda insere uma bem-vinda faísca de esperança para esta complicada família, mostrando que nunca é tarde para se começar a proferir alguns “Eu te amo”, alguns “Obrigado” e principalmente, alguns “Me desculpe”.

Com alguma sorte, esta distribuição do filme pela Netflix venha significar que Os Meyerowitz encontrará uma audiência maior do que apenas a do circuito de cinema de arte, em um efeito semelhante ao do cinema do diretor Wes Anderson, que há muito tempo superou sua alcunha de cinema arthouse. E apesar de tecnicamente tratar-se de uma aquisição, Os Meyerowitz: Família Não Se Escolhe é um dos melhores (senão o melhor) filmes originais Netflix até hoje, o que pode ser interpretado como um sinal de que a companhia está finalmente mostrando um maior interesse e discernimento em seu conteúdo.

Os Meyerowitz: Família Não Se Escolhe estreia no catálogo da Netflix hoje, dia 13 de Outubro.

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Respostas de 2

  1. OS MEYEROWITZ – FAMÍLIA NÃO SE ESCOLHE

    Costumo dizer, em tom de piada (ou sarcasmo) que parente a gente não escolher. Este filme trata disso. Traz a história de um velho escultor e sua família: três filhos problemáticos, uma esposa (a terceira) alcoólatra e uma neta adolescente. Não que o velho escultor também não seja problemático, aliás ele é a fonte de quase todos os problemas enfrentados pelos seus.

    Mas o que mais chama a atenção nesse filme é como fica evidente algo que vejo na maioria das famílias: um bando de filhos adultos agindo como crianças.

    O mais novo dos filhos é visto pelos outros dois como o preferido do pai. Todavia, o caçula tem enormes dificuldades com o velho e permanecer equilibrado nos raros encontros é algo quase impossível. Sequer ocorre uma comunicação satisfatória entre ambos.

    O primogênito talvez seja o mais infantil de todos. Músico fracassado, dependente da esposa, irritadiço no trânsito, imaturo e pai amigo. No auge da crise da meia idade faz aquilo que qualquer imaturo faz: resolve morar na casa paterna “por uns tempos”, mesmo tendo sido expulso dela, anos atrás.

    A filha do meio, extremamente apagada, é um retrato fiel da criança que foi ignorada na infância. Matem-se mais nas sombras do que na luz.

    Quando o pai adoece, os três enfrentam dificuldades enormes ao lidar com a nova realidade. Três crianças perdidas tentando cuidar de quem não soube cuidar delas. Como é comum no mundo infantil, tentam resolver o problema “na porrada”, após vir à tona toda a ciumeira que alimentaram uns dos outros ao longo da vida. Adultos, seguem disputando a preferência de quem preferiu negligenciá-los.

    Eis algo que não compreendo: por que continuar com isso? Por que agir como eternas crianças dependentes da atenção paterna? Não notaram que se tornaram adultos? Quando essa adolescência vai acabar?

    Ao final, mesmo doente, o velho sobrevive e continua sendo o que sempre foi: egoísta e dominador.

    Um filme que, com doçura e humor, mostra a realidade familiar que todos conhecemos bem. Afinal, todos fomos crianças um dia e muitos continuarão sendo, até o fim.

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