Crítica: Summer of 84 (2018)

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Os Goonies, Meus Vizinhos são um Terror, Conta Comigo, Deu a Louca nos Monstros, e agora mais precisamente a série Stranger Things e o remake de It: A Coisa (cuja crítica você também pode conferir aqui no Portal do Andreoli), entre outros exemplares do cinema fantástico e de aventura dos anos oitenta e seus derivados atuais, servem de referência à este Summer of 84 (EUA/CAN, 2018), produção exibida no Festival de Sundance em janeiro deste ano, e que bebe na fonte da ainda forte e atual tendência de emular o entretenimento audiovisual da referida década.

O filme, que se passa no titular verão do ano de 1984, segue as aventuras de quatro amigos adolescentes; Davey (Graham Verchere, da série The Good Doctor), Tommy (Judah Lewis, do drama Demolição), Woody (Caleb Emery, da série Good Girls) e Curtis (Cory Gruter-Andrew, de Esta é Sua Morte), todos basicamente explodindo hormônios, desesperados para provar sua masculinidade utilizando-se de uma infinidade de piadas sobre dormir com a mãe do outro, contar mentiras sobre suas nulas experiências sexuais, e espiar de binóculos a vizinha tirando a roupa. Um dia, Davey, que é obcecado por histórias de suspense, ouve que um serial killer está à solta na área. Quando ele começa a suspeitar que seu vizinho policial, Mr. Mackey (Rich Sommer, da série Mad Men), é o assassino em questão, ele convence seus amigos a se juntar à ele em uma investigação para descobrir se o policial é mesmo o culpado, e assim resolverem o caso por conta própria.

Apesar de todas as produções citadas lá no início do texto, Summer of 84 se assemelha bastante à outra produção recente, que por sua vez também emula outros títulos da década de oitenta, o thriller Super Dark Times (cuja crítica campeã de acessos na internet você também confere aqui no Portal do Andreoli). A real semelhança entre os dois filmes, além de serem situados na mesma década, é a pegada mais violenta e sombria, que foge um pouco da atmosfera mais água-com-açúcar das outras produções citadas (se bem que o novo It: A Coisa não é nenhum exemplo de glicose na narrativa).

Summer of 84 é escrito e dirigido pelo trio François Simard, Anouk Whissell e Yoann-Karl Whissell, que em 2015 dirigiram o cult teen Turbo Kid, e ganharam fama imediata. Assim como fizeram em Turbo Kid, o time de diretores é eficiente em criar uma atmosfera de inocência, em que os garotos podem essencialmente vigiar um oficial da polícia, não importando o quão desesperadamente eles tentam convencer um ao outro (e o público), que qualquer passo errado pode levar à terríveis consequências. Contudo, esta atmosfera é obscurecida por um roteiro onde boa parte dos diálogos soam forçados e repetitivos, resultando em cenas que evocam um sentimento de déja vu. O elenco dá o melhor de si com o que lhe é dado, mas é perceptível os problemas de texto na entrega de alguns diálogos.

Musicalmente, o score do compositor Le Matos não tem a mesma vibração e carisma de seu trabalho em Turbo Kid, e infelizmente acaba soando apenas como barulho de fundo. Além disso, os 105 minutos de duração do filme bem poderiam ter sido editados em uns 15, 20 minutos a menos. Esteticamente, entretanto, o filme parece incrivelmente profissional. O design de produção é ótimo e o diretor de fotografia Jean-Philippe Bernier nitidamente tem olho clínico para fazer cada frame saltar aos olhos do espectador. Outro ponto a ressaltar, é o fato do filme não jogar um caminhão de referências aos anos oitenta no colo do espectador, o que chega a ser um alívio hoje em dia. São os pequenos detalhes aqui e ali que solidificam o timeframe de Summer of 84.

Assim como o terceiro filme da saga O Senhor dos Anéis, Summer of 84 sofre com seus múltiplos finais. O filme escurece sua tela diversas vezes para voltar em seguida com mais um pouco de história, e enquanto que o verdadeiro final se revela realmente ótimo, fica a sensação de que ele veio um tanto tarde, em um filme desnecessariamente longo demais. Contudo, é justamente esta conclusão derradeira que alça o patamar e justifica a sessão deste Summer of 84, ao utilizar uma reviravolta até previsível, mas que é extremamente eficaz em destruir aquela atmosfera de inocência que permeia todo o filme. Neste sentido, esta perda da inocência funciona como uma amálgama do fim da própria década em que se passa o filme, afinal, nunca seremos tão ingênuos como éramos nos anos oitenta.

Summer of 84 ainda não tem previsão de estreia nos cinemas brasileiros, e deve chegar ao país diretamente através de serviços de streaming e VOD.

https://www.youtube.com/watch?v=Gxc1VF5L3ng

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