Vivian Soares: Avatar –  O Caminho da Água se mantém um espetáculo visual sem precedentes, mas supera o primeiro com substância narrativa inquestionável e conexão emocional

Meses antes do lançamento de Avatar nos cinemas, há 13 anos atrás (2009), as altas expectativas do público com relação ao longa já traduziam a grandeza do que o diretor James Cameron, autor de grandes sucessos como Titanic (1997) e O Exterminador do Futuro (1984), estava executando. Naquela época, o então novo filme estava prestes a propor algo que revolucionaria o meio cinematográfico – ele foi inteiramente gravado com tecnologia de captura de movimento (motion capture), que permite capturar movimentos reais do corpo humano para produzir movimentos computadorizados.

Tecnologia de captura de movimento/foto de divulgação do filme Avatar: O Caminho da Água

No entanto, o status de fenômeno cinematográfico instantâneo não seria alcançado somente pela tecnologia utilizada, Cameron também apresentou ao mundo uma história totalmente original. Passando-se no ano de 2154, ela descreve um cenário em que a humanidade esgotou todos os seus recursos hídricos e precisou procurar um novo lugar para habitar. Eis que os cientistas descobrem Pandora, uma lua cujo impressionante meio ambiente poderia abrigar seres humanos, sob determinadas condições específicas.

Para colonizá-la, contudo, o plano incluía exterminar os Na’vi, seres humanoides azuis e extremamente altos, com cultura e linguagem próprias. Como a atmosfera do lugar é tóxica para humanos, os soldados que estivessem na missão precisariam de avatares idênticos aos nativos. Inicialmente, o protagonista do filme, Jake Sully (Sam Worthington), era um ex-fuzileiro cuja missão era extrair informações sobre esse povo, mas tudo mudou quando ele se apaixonou por Neytiri (Zoe Saldana), uma nativa que o ensinou a viver entre o clã. Decidido a impedir a invasão humana em Pandora e a iminente destruição dos Na’vi, Jake se junta aos nativos para lutar contra os humanos e se torna, definitivamente, um deles.

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Apesar da história fascinante e os efeitos visuais belíssimos, o primeiro filme se atém à simplicidade de roteiro, fazendo a escolha óbvia de explorar cada detalhe envolvendo a vida em Pandora e os hábitos dos Na’vi, o que não é exatamente um erro tratando-se de um filme de apresentação. Com isso, já era de se esperar que o segundo trouxesse mais substância narrativa na construção desse imenso épico que é Avatar, a surpresa é que Cameron fez a escolha inteligente de trabalhar com um elemento que fez todo o diferencial: a emoção.

Foto de divulgação do filme Avatar: O Caminho da Água

Ainda que a tecnologia ainda seja um fator determinante, uma vez que o diretor passou cerca de 10 anos desenvolvendo uma nova câmera especial só para gravar o filme, o segundo filme cria uma conexão emocional entre espectador e narrativa que é raríssima em um blockbuster. Começando pela premissa, o segundo filme narra a vida de Jake como um líder Na’vi depois dos acontecimentos do primeiro filme e, também, como companheiro e pai. Vivendo uma vida simples com Neytiri e os quatro filhos, o protagonista tem certeza que atingiu o ápice da felicidade. Mas essa felicidade é ameaçada quando os humanos, que ainda não desistiram da colonização, retornam com sede de vingança. Assim, Jake se vê obrigado a fazer o possível e o impossível para proteger seu povo e sua família.

O filme conduz o espectador, com muita maestria pelos lindos cenários de Pandora e por novos clãs Na’vi, que possuem hábitos completamente diferentes do clã da floresta pois vivem em arquipélagos no meio do mar. A direção faz um trabalho impecável no que toca à criar uma experiência imersiva para o público, tanto por ver em tela o crescimento dos filhos de Jake, as particularidades de cada um enquanto pessoa, sua relação com a natureza e com os próprios animais, de modo que cada ataque ao meio ambiente e à fauna apresentada no filme é sentido profundamente.

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Jake Sully e seu filho/foto de divulgação do filme Avatar: O Caminho da Água

O contraste entre o plano neoimperialista humano, com sua ideologia de destruição, e o modo de vida dos nativos também é um ponto que entrega uma reflexão do mais alto nível para um marco da cultura pop tão gigante quanto a franquia é. Dessa forma, ainda que a narrativa fique arrastada em determinados momentos, em momento algum, ela é chata. Além do mais, os efeitos especiais de ponta não se limitam ao mero exercício de submergir o público na atmosfera lindíssima do filme, e são ponto crucial da construção das cenas de ação, muito bem dirigidas na medida que são estrategicamente muito tensas.

Cada elemento do filme cria no espectador a sensação de familiaridade com o ambiente e a história; ele é repleto de substância narrativa, entregando, para além do sopro de vida da originalidade, uma franquia que, até agora, tem de tudo para não fracassar porque instiga o público a se conectar, a cada arco das personagens, situações difíceis de lidar entre elas…enfim, tudo é muito crível e bem articulado, de forma que não é exagero dizer que esse é um dos melhores lançamentos do ano de 2022.

Apesar das longas 3h10min, o longa vale cada minuto e cada centavo do ingresso, não só por ser um espetáculo visual sem precedentes, mas por oferecer uma narrativa com conteúdo diferenciado e apelo emocional na medida certa.

 

 

**O conteúdo e informação publicado é responsabilidade exclusiva do colunista e não expressa necessariamente a opinião deste site.

Imagens: Foto divulgação / Filme Avatar: O Caminho da Água / Disney

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