Victor Valdés é um raro exemplo de um atleta – ou agora, ex-atleta – vacinado contra um inconveniente que atinge grande parte daqueles que viveram ou auge da fama durante o exercício de sua profissão. A distancia dos holofotes “machuca” muitos daqueles que vão experimentando os primeiros instantes da inevitável aposentadoria. Mas no caso em que questão, segue-se exatamente o que havia sido planejado por ele.
No dia primeiro de janeiro, as redes sociais do ex-goleiro apresentaram a mensagem “Obrigado por tudo”. Dois dias mais tarde, não só ela, mas todas as mensagens postadas por Valdés, haviam sido apagadas. Em 2015 ele havia prometido “sumir da vida pública” quando parasse. Começou a cumprir.
É bem verdade que ele já não atuava há seis meses, portanto já era considerado um atleta fora de atividade. Tem 35 anos e disse que esperava que as pessoas não o encontrassem depois de pendurar as luvas e chuteiras.
Ele atuou durante 12 anos no Barcelona – clube que o revelou – e conquistou 22 títulos. Foi também reserva de Casillas na Copa do Mundo de 2010, vencida pela Espanha.
Foram 536 partidas pelo time Catalão e é o goleiro com mais partidas na história do Barcelona. Difícil que seja esquecido e que, mais que isso, seja procurado por fãs e jornalistas do mundo inteiro.
Improvável que alguém com tanta história e tenta representatividade para o mundo esportivo de um país – ganhou também a Eurocopa 2012 com a seleção espanhola – consiga viver “no anonimato”. Mais que isso: qual a razão de querer tamanha distância?
Há três décadas no jornalismo esportivo, vejo como muitos jogadores aposentados sofrem, hoje, com o anonimato. Há falta de reconhecimento pelos “serviços prestados”, há falta de conhecimento da “história” que ajudaram a construir. Mas há também o ego, a mágoa, e algumas vezes, a satisfação frustrada de querer mostrar-se importante enquanto profissional que foi, um dia.
O ostracismo é um mal silencioso que atinge diretamente alguém que viveu boa parte de sua trajetória – pessoal e profissional – no auge da fama, do sucesso e do reconhecimento. Talvez hoje seja bom se manter distante. “Amanhã”, provável que ele possa mudar de ideia.
Seria tão bom que Victor Valdés pudesse mudar, repensar essa decisão. Eu entraria correndo na fila para entrevista-lo. Deve ter grandes e belas histórias para contar.
O tempo é o maior remédio. Pode fazê-lo repensar. Victor Valdés não é daqueles personagens que a gente esquecesse tão fácil. Tomara que ele não deixe a gente se esquecer. Como goleiro ele foi dez, como figura pública, agora depois da carreira, que seja também.
Curta sua aposentadoria. Mas não o ostracismo que ela certamente trará.
Boa sorte, portero.