O nome dele já o torna diferente, praticamente impossível de esquecer. O Palmeiras trouxe Deyverson da Europa a pedido do técnico Cuca. E não faltaram críticas e dúvidas sobre sua contratação. “Sempre duvidaram de mim”, me falou logo após marcar o gol que o consagraria como o jogador que levou o Palmeiras ao décimo Campeonato Brasileiro de sua história.
Não é demagogia barata dizer que a desconfiança o atingiu desde sempre. Deyverson é um menino pobre da periferia do Rio de Janeiro. Nasceu em Mangaratiba, numa comunidade que sempre o fez desacreditar em seu próprio potencial. E nunca conseguiu. “Quero dedicar esse título a vocês que duvidaram de mim”, desabafou emocionado. “Sim, foram muitos, lá, onde cresci. E isso sempre me deu força para lutar e conseguir meus objetivos. Não é uma vingança, mas uma resposta para nunca parar de acreditar”, respondeu o atacante.
Deyverson era um desconhecido do futebol brasileiro quando chegou no Palmeiras, de caixa polpudo pelo patrocínio generoso da Crefisa. Um contraste a contratação milionária de Miguel Borja, artilheiro da Libertadores com o Atlético Nacional da Colômbia, recebido como celebridade pela torcida alviverde, no aeroporto de Guarulhos, quando desembarcou em solo brasileiro.
Era com Borja que Deyverson teria que disputar a vaga de referência na área adversária. Com Borja e com a desconfiança. Seu jeito “pilhado” sempre deu combustível aos críticos. “Eu sou ligado no 220v. As vezes extrapolo, mas sempre com o objetivo de ajudar”. Mas ele não estava se ajudando.
Com o treinador Roger Machado, oito jogos no Campeonato Brasileiro, nenhum gol marcado. Quando Luis Felipe Scolari chegou, tudo mudaria, para melhor. Foram dezessete partidas no Brasileirão. E nove gols marcados. O mais recente, em um jogo difícil. Bastava uma vitória contra o Vasco da Gama, em São Januário, para o alviverde sagrar-se campeão com uma rodada de antecedência. Mas o time não jogava bem e o gol não saia. E o destino quis entrar em cena.
Aos quatorze minutos da etapa final, Felipão olhou para o banco de reservas e chamou o grandalhão de cabelo descolorido. Deyverson entraria no lugar de Borja, para quem sabe, mudar a história do jogo. “Levantei a mil por hora. Tive que ser acalmado pelos mais experientes”, contou sorrindo. “Felipão pediu calma e para eu jogar meu futebol”.
Doze minutos mais tarde, Dudu lançou Willian que se esticou para cruzar a bola na pequena área e ali, um horizonte se oferecia a Deyverson para fazê-lo voltar no tempo. A bola foi para as redes e o feito colocou o atacante de volta às suas origens.
“Eu era ainda muito pequeno quando sai da minha comunidade para jogar no Vasco da Gama”, revelou para um batalhão de jornalistas, atrás de uma declaração do herói do título. “Eu não entro para a história, o Palmeiras entrou”, insistia em sua humildade ímpar.
Por mais que Deyverson recuse a indicação, o tempo vai mostrá-lo que o título veio de seu oportunismo e brilho improvável. Deyverson está longe de ser um craque, mas venceu as dúvidas para garantir o Brasileirão de 2018 a um Palmeiras milionário e cheio de estrelas, ainda que ele destoe disso tudo.
Ele agradeceu a ex-mulher que enfrentou ao lado dele, os primeiros anos de Europa. Agradeceu aqueles que duvidaram, a tantos outros que acreditaram na sua capacidade. Entre eles, o experiente Luís Felipe Scolari. “Não podemos pilhar o Deyverson mais do que ele já é, pelo amor de Deus”, brincou Felipão. “Não tenho o que falar dele, procura no site e vê toda a história dele”, disse entre pequenos sorrisos, o herói improvável. “Quando todos me criticavam e tiravam sarro de mim, Felipão me pediu para esquecer e olhar para dentro de mim mesmo. Eu obedeci”, me contou.
Eram 21 vitórias, 60 gols marcados mas ainda faltava algo para o grito de campeão. E foi Deyverson quem proporcionou este momento inesquecível para o torcedor alviverde. Deyverson: a história de um herói improvável.