Nivaldo de Cillo: Batedor

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Que falta faz o comprometimento no futebol de hoje. Que falta faz o batedor de falta, para encantar o torcedor e levar sua equipe a vitória. Dois especialistas me fazem relembrar o poder da “bola parada”.

Dia desses, por um presente que a profissão me propicia, participei do programa Show do Esporte, da TV Bandeirantes, com dois dos maiores especialistas em “bola parada” da história do nosso futebol: Neto e Marcelinho Carioca. Só de ouvi-los, deu saudade dos velhos tempos.

Independentemente da categoria dos dois, algo que nasceu com eles, observei histórias que se coincidem e, até por isso, levaram ambos ao sucesso. Tanto Neto como Marcelinho Carioca, treinavam à exaustão para que pudessem decidir os jogos nas “bolas paradas”. E decidiam mesmo.

O sucesso de ambos não veio sem uma dose enorme do “dom individual” mas também de dedicação exclusiva ao fundamento, no final de cada treino. “Íamos além das nossas obrigações com o grupo. Terminado o treinamento, batia até quarenta faltas, para me aprimorar no fundamento”, relembra Marcelinho Carioca, o “pé de anjo”.

“Nos tempos de Guarani, eu percebi que em dia de chuva, grama pesada, estava errando as cobranças, durante os jogos. Passei a encharcar as bolas em baldes de água, para que ela pudesse ficar mais pesada. Saia com o pé inchado de tantos chutes. Por semana, eram umas duzentas cobranças” relembra Neto, o “xodó da fiel”.

Tanto um como outro, eram especialistas em bola parada. Mas faziam das repetições, uma maneira de melhorar o aproveitamento a despeito da capacidade que eles já tinham. E o sucesso de ambos foi notório. Basta puxar pelos arquivos digitais que todos temos acesso, como YouTube, por exemplo.

Me recordo de outro batedor de falta que fez muito sucesso, há até pouco tempo. Rogerio Ceni não era um especialista, mas um atleta dedicado que, graças às suas horas de treinamento, quase diariamente, tornou-se o maior goleiro-artilheiro da história do futebol mundial. Cansei de acompanhar o agora treinador, a chegar mais cedo que seus colegas de treinamento e deixar o gramado horas depois de todos eles. As cobranças de falta eram diárias, treinadas com afinco.

Hoje, não estou onipresente nos clubes, então não posso afirmar com absoluta certeza. Mas pelo que acompanho no dia a dia de algumas agremiações e também nas partidas do Brasileirão e da Série B, tem pouca gente “perdendo tempo” com treinos específicos que poderiam fazer a diferença.

Quantos gols de falta temos visto no futebol brasileiro ? Qual a razão de não termos mais excelentes batedores ?  Será que os grandes jogadores da “bola parada” não existirão, estão sendo extintos ? Para mim, a resposta é apenas uma: falta dedicação.

Tenho saudade de “gol olímpico”, de falta batida no ângulo, com o goleiro estático. Tenho saudade das curvas intermináveis, da bola que quicava na frente do arqueiro e se tornava indefensável.

Tenho saudade de Marcelinho Carioca, Neto, Zico, Eder Aleixo, Zenon, Dica, Rogério Ceni, e tantos outros. Tenho saudade dos velhos tempos em que a bola parada era um frisson, um “quase gol”. Pena que hoje tudo mudou.

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