Bom dia a todos vocês!
Eu estava pensando sobre o que escrever na coluna desta semana. Eu pensei nos comentários que recebi de alguns de vocês na semana passada. Obrigado por cada um que me escreveu no WhatsApp, na própria coluna, no Facebook, etc.
Aliás, é sobre a “mídia social” que eu quero voltar a falar.
A razão é muito simples.
Na semana passada eu levei um grupo de pessoas para uma experiência no meio da natureza. Fizemos uma caminhada enquanto curtíamos a paisagem coberta de neve.
Ora, você me pergunta: “Fábio, você não disse que era primavera? ”
É verdade. Estamos na primavera, mas sempre no início de Abril temos um último fim de semana de neve, e uma onda de frio encobre as regiões mais elevadas e montanhosas da França. De modo que eu vivo em uma região montanhosa e por isso fomos presenteados por este “momento Narniano”.
Na realidade, eu estou fazendo este preâmbulo apenas para dizer que um dos comentários que eu escutei enquanto caminhávamos pelos bosques de Saint-Romain-au-Mont-D’or era o fato de estarmos tendo uma experiência divina de 360°.
Isto mesmo! Uma experiência de 360° bem diante dos nossos olhos e bem diante de todos os nossos sentidos. E mais ainda: sabíamos que uma câmera fotográfica e um video feito pelo Iphone não seria possível registrar tal experiência. E se assim decidíssemos fazê-los, estaríamos perdendo o momento presente…
É disto que eu gostaria de falar.
Pois bem, eu ainda me lembro quando no jogo entre Brasil e Jamaica em Grenoble, mundial de futebol feminino, com todas elas: Marta, Formiga e companhia…
Eu estava tão empolgado assistindo o jogo, escrevendo e enviando fotos e videos para as centenas de amigos no mundo inteiro no meu WhatsApp….
E de repente…
O Brasil marcou o gol e eu perdi. Perdi o momento. Perdi para aprender. Perdi para continuar percebendo que centenas de outras pessoas do meu lado estavam perdendo. Eles estavam perdendo porque gravavam tudo através do telefone sem perceber que estavam vendo o jogo inteiro através das lentes da câmera de um celular.
O que nos faz tirar tantas fotos? Quantos de nós realmente voltamos aos videos que fazemos durante uma viagem magnífica onde vimos tudo através de um filtro telefônico?
Quantos cheiros jamais sentimos por estarmos distraídos!
Quantos sons de passarinhos e da água cristalina que corre não percebemos!
Quantas folhas e cores, flores e chãos deixamos de pisar e apalpar, sentir e ver porque escolhemos não viver o momento, e sim o futuro.
O futuro de postar algumas destas fotos.
O futuro de deixar um video em algumas das nossas redes sociais a espera de um “like”.
O futuro que nunca irá existir, porque não voltaremos ao futuro, pois ele se tornará presente, e quando o futuro se tornar presente, seguiremos pensando no futuro.
O que dizer dos videos que estarão perdidos entre centenas de outros videos que armazenamos nos nossos Iphones?
O que dizer das dezenas de “selfies” e fotos que nos trazem a ilusão de receber “louvores e aplausos” de uma platéia Facebookiana?
Isto dito, eu sei que a globalização e a tecnologia nos trazem benefícios inimagináveis.
Eu uso quase todas as plataformas.
Eu tenho acesso e recebo centenas de benefícios por usar cada uma delas.
Elas me servem, mas atentamente todos os dias, eu digo a mim mesmo: “Cuidado, Fábio! Elas te servem, mas não sirva a nenhuma delas!”.
Eu todos os dias trabalho com elas, mas atentamente eu digo a mim mesmo: “Cuidado, Fábio! Não seja sequestrado por elas impedindo que você passe tempo com as tuas filhas e esposa!”
Viva o momento! Viva o cheiro gostoso das plantas que te cercam.
Viva o momento! Viva o aniversário do teu filho como se fosse o único que você vai participar.
Viva a paisagem da montanha enquanto você dirige o teu carro!
Ouça as ondas do mar e a sua sinfonia singular. Brinque com cada uma delas! Viva na intensidade e com a alegria de uma criança de 5 anos de idade.
Viva o momento! Viva a amizade e o encontro fraternal entre amigos.
Viva o momento e olhe nos olhos da tua esposa com doçura e afeto.
Viva o momento e saia com o teu esposo de mãos dadas como se fosse o primeiro encontro.
Viva o momento e abrace o teu pai. Beije a tua mãe com gratidão por ela ter cuidado de ti quando você era um ser totalmente dependente de carinho, afeto e cuidado.
Viva o momento longe dos filtros e das plataformas que nos vendem a ilusão que seremos “celebridades” e “pessoas famosas”.
Uma última dica: Posso te dar?
Se você escolher fazer fotos e videos, faça-os; mas ponha a câmera e o telefone de lado depois de fazê-los, pois há lembranças que serão guardadas no teu coração e que Iphone nenhum é capaz de armazenar.
Eu desejo a todos vocês uma ótima semana.
Além disso, eu deixo vocês com o belo texto do Ruben Alves:
“Compreendi, então, que a vida não é uma sonata que, para realizar a sua beleza,
tem de ser tocada até o fim. Dei-me conta, ao contrário, de que a vida é um álbum de mini-sonatas. Cada momento de beleza vivido e amado, por efêmero que seja, é uma experiência completa que está destinada à eternidade. Um único momento de beleza e amor justifica a vida inteira.” Ruben Alves
Fábio
Rochetaillée-sur-Saône
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Respostas de 4
Obrigada Fabio por nos presentear com mais uma reflexão tão pertinente ao nosso dia a dia.
Verdades simples, que insistimos em esquecer.
E me deu vontade de caminhar pelas montanhas da França tambem…
Olá Rebeca,
Obrigado pela tua mensagem. Que maravilha! Venha nos visitar. Venha mesmo! Será um prazer ter você conosco e caminhar pelas montanhas da França.
Um forte abraço. Eu te desejo muita luz e sabedoria para você, e na tua jornada.
Se cuide.
Fábio
Bela reflexão sobre termos virado escravos do iPhone e das mídias sociais
Eu só tenho WhatsApp para me comunicar com a minha família e meus poucos e seletos amigos.
Tem gente que não larga o celular e o Facebook.
Isso não é viver.
Parabéns meu amigo por mais este texto simples e profundo. 🙏
Renato, meu querido amigo.
Obrigado pela tua mensagem. Eu estou de acordo com você. Infelizmente tem gente que não larga o Facebook, não tira os olhos do WhatsApp, e eles não se dão conta que o mundo está passando bem diante dos seus olhos…
É verdade. Isto não é viver, eu diria que é apenas existir 🙂
Um forte abraço.
Fábio