Fábio Muniz: Transição é a palavra que ninguém gosta de ouvir

Se eu pudesse fazer um brainstorming. Eu perguntaria a vocês: Quais são as palavras ou imagens que vêm na tua mente e estão intrinsicamente conectadas com a palavra transição?

Alguns diriam: Desconforto. Correto! Medo do desconhecido. Correto! Uma criança que está crescendo, e, portanto, os seus ossos doem. Correto! A vida de uma lagarta para uma borboleta. Correto! Parece que não tenho mais chão, porque a transição me põe dentro de uma zona que falta segurança. Correto!

Bom dia a todos vocês meus amigos queridos.

Olha só…

O meu vôo estava previsto para sair às 7:30 da manhã da sexta-feira dia 11 de Junho. No dia 10 de Junho eu tomei a minha segunda dose da vacina Pfizer. No dia 9 de junho eu fiz o teste do COVID, pois neste momento de transição, tudo é transição e pouco se sabe o que está na “esquina” dos protocolos que podem mudar a qualquer momento dependendo do número de novos casos…

Transição é a palavra-chave desta manhã. Você tem filhos pequenos? Você já teve? Você talvez um dia terá…

Portanto, após preparar-me para a minha viagem “relâmpago” de 7 dias na Flórida na noite anterior, as crianças já estavam dormindo, e finalmente eu consegui terminar os últimos ajustes da bagagem, trabalhar um pouco na contabilidade dos nossos projetos, esboçar 5 palestras que tenho que fazer (2 em Português e 3 em Inglês) e deixar tudo pronto para assim que possível escutar 1 audiobook durante a viagem ou na ida, ou na volta, tanto quanto 3 outros livros para o meu Mestrado…

Já te deixei cansado…

Eu sei disto! Peço desculpas…

Na realidade, estas são coisas inevitáveis que na transição entre viagens, trabalho, família e crianças pequenas é quase impossível fazer tudo com uma agenda impecavelmente cronometrada…

Até porque quando todos estamos em casa, o caos não pede permissão para entrar…

Deve ser somente na minha casa que estas coisas acontecem:-)

Acho que na tua não acontece ou nunca aconteceu?

Eu sei que estas coisas não acontecem somente comigo…

É engraçado. Parece que todo mundo que um dia teve crianças pequenas, hoje sofre de uma profunda e aguda amnésia:-)

As minhas lindas meninas e cheias de energia quando eu fico em casa tentando fazer da minha sala o meu próprio escritório, frequentemente elas “não me deixam” trabalhar…

Ora, é claro e óbvio que apesar de querer um pouco de “silêncio e refúgio” eu estou morrendo de saudades delas enquanto escrevo este texto voando pelo oceano Atlântico entre a Europa e a América do Norte.

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Voltando ao nosso tema da transição. Você está passando por alguma transição?

O indivíduo que se casa: passa por transição. O indivíduo que entra na universidade: passa por transição. O indivíduo que se torna adolescente ou “aborrecente”: passa por transição.  E que transição, einh?! Coitado daqueles que estão do lado dele ou dela…

A garota grávida: outra transição. Você tem filhos pequenos como eu: mais uma transição…

Você vai para outro país? E tem que aprender outro idioma, novo trabalho, nova cultura: transição.

Dito isto, eu dizia no início deste texto que o meu vôo era para sair às 7:30 da manhã da sexta-feira. Às 00:15 da noite anterior fui para a cama. Às 4:00 da manhã acordei, fechei as malas e fui andando até a estação principal no centro de Lyon….

Enquanto ouvia o meu audiobook e caminhava, a minha primeira e agradável surpresa foi perceber que havia gente na rua. Havia uma fila. Todos de máscara. O “bondinho” chegou. Há 5 meses atrás, esta cidade era uma cidade fantasma. Há 5 meses atrás o aeroporto era um deserto. Leia o meu texto O mundo jamais será o mesmo: Façamos um minuto de silêncio…

No texto mencionado tenho fotos sobre o mesmo aeroporto e você verá que de fato estava parecendo um deserto. Nenhum carro. Nenhum ônibus. Nenhum passageiro. Nenhum avião….

Voltando para a minha primeira e agradável surpresa, eu segui vendo filas nos guichês das companhias aéreas, o Duty Free estava aberto no aeroporto, percebi gels espalhados próximos dos banheiros e restaurantes, certamente a transição começou.

É o “pontapé inicial”. “Bola rolando….

Já era hora…

Promoções de vôos como aquelas promoções que um dia existiram. As empresas de “low-cost”…

Cafés abertos como aqueles cafés que um dia existiram. As filas organizadas e os amantes de um bom café (como eu sou um deles!) aproveitando o cheirinho do café e os seus diferentes sabores.

Restaurantes funcionando como aqueles restaurantes que um dia existiram…

No entanto, e conquanto eu veja a transição, eu sei que o mundo nunca mais será o mesmo.

Eu olho para o policial. E ele me diz: “Tire a máscara por favor, preciso verificar o teu rosto para comparar com a foto do teu passaporte”.

Gel na entrada do avião. Distanciamento social nas cadeiras do avião. Ordem para sair do avião fileira por fileira. Checagem antes de entrar no avião e selo na minha passagem para ratificar que estou vacinado e fiz o teste COVID e deu negativo…

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Procedimentos novos e diferentes, a palavra que se ecoa é: transição…

Pois bem, olho o mundo de hoje e tento usar as lentes do momento, olho para trás como um filho do século XX e sei que as minhas meninas cheias de energia, filhas do século XXI e produtos da era COVID jamais saberão como o mundo um dia existiu…

Assim como elas não sabem o que é uma máquina de escrever, uma secretária eletrônica, um celular tijolão. Você lembra dele?

E o tal do orelhão? Ainda existe? E quem nunca fez uma chamada à cobrar de um orelhão? As minhas meninas jamais saberão o que estou falando. Até parece alguns dos personagens “narnianos” que a minha filha Sophia imagina enquanto eu leio As Crônicas de Nárnia

Assim como elas não sabem o que é um fax ou um telefone de discar ou até mesmo uma máquina fotográfica (visto que hoje a gente prefere usar os celulares com mais precisão do que as máquinas Kodak)…

Assim como parece um passado longínquo, distante e muito mais um ambiente do Jurassic Park. Da mesma forma e intensidade o COVID tem feito um corte inegavelmente preciso na nossa história. E mais ainda: é devido à esta descrição tão simples que acabo de fazer que brevemente veremos o mesmo corte nos mostrando para onde esta transição vai nos levar e aonde iremos aterrissar…

Para onde este vôo na historia civilizatória vai nos catapultar?

Ora, qual pista existencial e psicológica que os nossos filhos e netos vão pisar?

Eu volto para falar sobre este tema na semana que vem.

Não se esqueça. No mesmo dia. Na mesma hora. No mesmo portal….

Uma coisa eu estou certo. No mínimo ESTE MEU vôo dentro de algumas horas estará aterrissando. E a pista está localizada na cidade de New Jersey, por isso eu te deixo. Com licença. A gente se fala mais tarde.

Quem na gostaria de dar um pulinho em Praga de Lyon por 19 euros? São as chamadas companhias de “low cost”. Eu as usei dezenas de vezes quando morava em Barcelona e era solteiro:-)
Gel dentro do avião assim que entramos, gel no aeroporto, passagem aérea selada mostrando que o passageiro testou o COVID negativo, lencinho para desinfetar, distanciamento social dentro do avião e uso contínuo de máscaras. Estas são as regras básicas para quem quer viajar durante esta transição.

 

Acredito que a Sophia tinha 3 anos quando comecei a viajar e levar os seus “bichinhos” e “bebezinhos”. Agora tenho que viajar com dois: um da Sophia e outro da Júlia. Enquanto viajo e vou à reuniões, pego aviões e trens, tomo café da manhã e almoço, tenho que tirar as fotos. Sempre quando conversamos, a primeira pergunta não é: “Tudo bem papai?” ou “Onde você está?”. Mas sim, “Onde estão os nossos “bebezinhos?”

 

             Aeroporto de Lyon, 11 de Junho de 2021.   /  Aeroporto de Frankfurt, 11 de Junho de 2021

 

“Bebezinhos” das meninas curtindo o Mercado Italiano em Saint Petersburg, Florida 🙂

 

No mais, um beijo grande a todos vocês. E coragem! Tudo vai ficar bem.

Até lá.

Fábio Muniz

Em algum lugar, em transição, entre a Europa e a América do Norte.

Fabio Muniz

**O conteúdo e informação publicado é responsabilidade exclusiva do colunista e não expressa necessariamente a opinião deste site.

Imagem 01: Freepik / edição Rachid

Imagens 02 a 13: Arquivo pessoal do colunista

 

 

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Respostas de 2

  1. Fábio,Vc pergunta o q vem na tua mente e está intrissicamente,conectados com a palavra transição?
    Na minha mente,A MORTE é uma transição. É um processo natural da vida. Devemos todos pensar nesta TRANSIÇÃO,não temer e se preparar MUITO bem…pq o tempo passa rapidamente….voa como diz a sagrada escritura. A BÍBLIA não MENTE.
    Bjs e parabéns por tudo q vc escreve nesta coluna tão SÁBIA.

  2. Em alguns momentos a transição é difícil e nos causa muito medo. Confiando em Deus conseguimos avançar e suportar esses momentos. Que Deus te guarde em sua viagem, continue escrevendo e nos inspirando….
    Abraço,

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