Você já ouviu falar da expressão: “Quanto mais eu rezo, mais assombração aparece?”

Bom dia meus amigos queridos,

Eu já escrevi sobre a cidade Playmobil da Júlia em uma das nas no Porminhas colutal do Andreoli. Aliás, a tal cidade cresce cada vez mais.

Temos que pular por cima dos pequenos Playmobil enquanto entramos na sala de casa, temos que prestar atenção para não esbarrar nas dezenas de casinhas e mesas de jardim, temos que tomar cuidado para não pisar em nenhum cavalo com as suas respectivas selas, temos que memorizar as posições das múltiplas bicicletas para não atrapalhar o fluxo dos pedestres que entram e saem da cidade e do aeroporto também.

Júlia e a reunião dos Playmobil.

Há dois meses a Júlia me mostrou a foto de um novo grupo de Playmobil e disse que gostaria de ganhar tal presente para o Natal. Eu tirei a foto, guardei e conversei com um amigo que traz muitos destes Playmobil direto da Alemanha onde eles são fabricados.

Pois bem, a Júlia não sabe que o seu presente de Natal já está a caminho.

Este é o Playmobil que está a caminho.

Ela não sabe que eu ouvi, prestei atenção e guardei o que ela me disse na primeira vez que conversamos.

No entanto, o Natal se aproxima; e ela repete, repete, e repete quase todos os dias a mesmíssima coisa: “Papai, o Playmobil. Você esqueceu?” “Papai, a casa com os cavalos”. “Papai, é o Playmobil da fazenda. Você sabe, né?”

Ora, nós estamos falando sobre a Oração do Pai Nosso desde a semana passada.

A cidade Playmobil da Júlia segue crescendo na sala da nossa casa.

Uma das lições mais extraordinárias dos ensinamentos de Jesus nos Evangelhos tem a ver com esta simplicidade de fazer a viagem da oração sem performances e evitar uma viagem que pode se tornar uma obsessão.

Foi assim que Jesus disse, “E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios; porque presumem que pelo seu muito falar serão ouvidos”.

Cada vez que a Júlia me disse, “Papai…”

Eu já sei o que ela vai dizer e abro um sorriso no meu rosto.

Você conhece gente que se fanatizou enquanto pisava em uma suposta jornada religiosa? Você conhece gente que “quanto mais reza, mais assombração aparece?” Você conhece gente que ao invés de provar serenidade no orar, a tal “oração” se tornou uma reza, um mantra ininterrupto, e o resultado deste processo é um indivíduo mais agitado, mais ansioso, cheio de “tiques nervosos” e inúmeros “toques”. Você conhece gente assim?

Eu conheço. E, infelizmente conheço muita gente assim!

Olha só. Se eu que sou pai com toda a minha limitabilidade, não preciso ouvir dezenas de vezes o pedido da minha filha porque já a ouvi e entendi quando ela me disse a primeira vez, quanto mais Deus que é o Pai Nosso. Será que Ele já ouviu as nossas preces e pedidos sinceros na primeira vez que fomos ao seu encontro? Há necessidade de repetir, repetir, e repetir a mesma oração 10 vezes?

Se eu que observo a alegria da minha filha ao brincar com os seus Playmobil, posso deduzir e concluir o que lhe traz alegrias e entusiasmo mesmo antes dela mesma fazer tal pedido de Natal, quanto mais Deus que é o nosso Pai que está nos céus, que nos vê em secreto e conhece as nossas necessidades mais intrínsecas.

Foi Sorein Kierkegaard quem disse, “A função da oração não é influenciar Deus, mas antes mudar a natureza daquele que ora”.

E você me pergunta, o que podemos aprender com isto?

Foi o meu amigo canadense Devan que um dia me disse: “Fábio, a impressão que temos quando oramos é que nada acontece, nada se altera”.

A impressão que temos é como se existisse uma rocha enorme, tentamos movê-la, mas ela permanece diante de nós. Parece que a enorme rocha não se move um centímetro.” O meu querido amigo concluiu e disse: “Ainda que aparentemente nada se altere, nada se move, quando nos damos conta, os nossos braços e músculos estão mais fortes, as nossas pernas se fortaleceram neste processo. Quando nos damos conta, percebemos que hoje podemos correr mais e irmos mais longe, hoje temos mais resistência e o nosso abdômen está mais rígido”.

Pois bem, a oração que não é uma mera repetição e que não se torna uma obsessão, ela nos leva para uma jornada espiritual que altera em nós a nossa própria natureza: ela nos faz melhores seres humanos, ela nos fortalece, ela nos faz indivíduos cheios de gratidão pela vida, ela nos guia pela mão através de uma trilha cheia de serenidade e que traz sossego para a nossa alma, ela nos liberta dos medos, das muitas assombrações e dos muitos fantasmas do passado, presente e futuro.

De modo que o antídoto para tal “reza ininterrupta” e obsessão fantasmagórica é uma consciência de saber que o Pai que está nos céus é o Pai Nosso, o nosso Paizinho, e para aqueles que falam Inglês como a Júlia, o “daddy” que em Aramaico temos a sua versão nas próprias palavras de Jesus, Abba.  É o mesmo Abba que “sabe o que vos é necessário, antes de vós lhe pedirdes”.

Um beijo grande a todos vocês e até a próxima!
Collonges-au-Mont-d’Or

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Imagens: Arquivo Pessoal do Colunista

3 respostas

  1. Belo texto, Fábio! Por experiência pessoal, digo: a oração nos transforma, nos transmuta, nos fortalece contra “ as assombrações “, nossos medos . A oração é o caminho para energizarmos positivamente o mundo! Abraços!🙏🙏🙏

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