Recordo-me, como se fosse hoje, da primeira vez que minha mãe me levou à escola, para meu primeiro dia de aula no antigo primário. Antes de eu passar pelo portão de entrada da escola estadual, ela me disse o seguinte: “meu filho, hoje é um dia importante na sua vida, daqui a pouco vai conhecer sua primeira professora. Aprenda que em sala de aula o professor manda e o aluno obedece. Essa é a regra. Se eu for chamada na diretoria em razão de queixa da professora, não importa o que você alegue, vou dar sempre razão à educadora, pois ela é a chefe na classe”.
Quando a professora entrou na sala de aula, a frase que minha genitora havia dito ressoava em minha mente: “a professora manda e os alunos obedecem”, naquela época, o ensino público era de altíssima qualidade, e um dos motivos, é que havia disciplina e hierarquia nos colégios. Professores eram respeitados e os alunos obedientes. Mas após alguns anos, o brasil foi mudando, e mudando para pior. Um dos motivadores é que direitos passaram a valer mais que deveres.
A constituição de 1988 foi precursora em estabelecer garantias e direitos fundamentais, tanto é verdade, que localizei no texto constitucional 76 vezes em que a palavra “direito” é citada.
Só tenho a elogiar os avanços que a constituição trouxe para o combate ao machismo, ao racismo, à homofobia e tantas injustiças que outrora eram mais latentes.
Por outro lado, o legislador constitucional não foi competente com os chamados “deveres do cidadão”, pois é óbvio que uma sociedade não se constrói apenas com direitos. Em nossa carta magna localizei apenas 4 vezes a palavra dever.
E com esse direcionamento, aos poucos, a sociedade brasileira foi evoluindo em relação aos direitos fundamentais, mas foi esquecendo e deixando de lado o estabelecimento de deveres, regras e punições.
A escola estadual atual é bem diferente daquela que frequentei. Professores são maltratados, ameaçados e até agredidos. Parece que alunos mandam e professores têm que obedecer, muitas vezes por medo de sofrer represálias.
Precisamos manter os direitos alcançados pela população brasileira, principalmente as minorias, mas também necessitamos, urgentemente, de incluir no texto constitucional pelo menos 72 vezes a palavra “dever”, isso para termos o equilíbrio necessário.
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Imagem: Vigilates da Torre