Lordello:Proximidade entre porteiros e moradores traz riscos à segurança

porteiros

Se compararmos as relações de trabalho entre funcionários da portaria de indústrias com os demais colaboradores e como se relacionam os porteiros de prédios com os moradores, veremos gritantes diferenças.

Os porteiros de fábricas e os de guaritas de edifícios têm o mesmo treinamento, ou seja, estamos tratando do mesmo profissional, só que em ambientes e públicos completamente distintos. O tráfego de transeuntes pela portaria de uma empresa, basicamente, é de trabalhadores que sabem das regras e normas a serem cumpridas, tais como, apresentação de crachá, horários rígidos para entrada e saída e etc. O receio de advertência e até demissão, faz com que passem pelo controle de acesso de pessoas e veículos de maneira profissional e com pouquíssima intimidade com os colaboradores responsáveis pela segurança.

Em condomínios residenciais, o maior público que transita é formado por moradores, que, eventualmente, sabem das regras criadas pela administração, mas como o ambiente nas áreas comuns se confunde com o de suas unidades de moradia, surgem relações afetivas e, com isso, os favores, facilidades e quebra-galhos, abrindo, assim, campo para vulnerabilidades. 

Porteiros de prédios residenciais costumam receber presentes, doações e comida. Não podemos esquecer que alguns moradores auxiliam ainda os funcionários na área jurídica, médica e até sentimental.

Esses favores acabam de certa maneira quebrando o aspecto hierárquico em relação ao trabalho de portaria, haja vista, que o porteiro deve atuar no seu trabalho tendo como base as normas e procedimentos internos.

Mas como negar um favor para quem costuma trazer um gostoso pedaço de pizza à noite?

Como deixar de atender um pedido do morador do apartamento 25, que sempre me presenteia com roupas que não usa mais?”

Tem uma música do grupo musical “Sem Retoque” com o seguinte refrão:

“Avisa pro porteiro fazer hora extra
Fica me esperando em frente ao portão
Porque estou chegando muito embriagado
É o coração na mão”

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Mas nesse processo de troca de favores nem tudo são flores, pois nem sempre a atitude é bem recebida. Certa vez, durante treinamento e capacitação que ministrei, ouvi a seguinte frase de um controlador de acesso de condomínio residencial vertical:

Lordello, tem morador que é sem noção, tudo que ele não quer mais no apartamento traz para a portaria. Acha que está fazendo um enorme favor pra gente. Já cheguei a receber de morador que ia viajar as sobras que tinha na geladeira. Não recusei para não ficar chato, mas foi só ele sair que joguei tudo no lixo. Alguns dão por educação e carinho, mas outros esperam em troca favores que não são permitidos pelo regulamento. Aí o porteiro fica entre a cruz e a espada”.

Não podemos esquecer dos moradores carentes ou que estão se sentindo sozinhos em seus apartamentos. Uma opção simples e rápida para bater um papinho é pegar o elevador e fazer visitinha para o porteiro. É comum encontrar condôminos dentro da guarita tomando cafezinho com a maior intimidade do mundo com o porteiro. A conversa se arrasta e quem passa pela clausura de pedestre recebe um afago ou até mesmo é convidado pelo intruso para fazer parte do bate-papo informal. Essa interação com os moradores provoca que o funcionário perca o foco na vigilância.

Em alguns prédios, os porteiros, principalmente à noite, chegam a receber encomendas delivery para alguns moradores, aqueles que sempre providenciam mimos. Ato contínuo, abandonam a guarita blindada para colocar as entregas no chão do elevador, acionando em seguida o número do apartamento. Assim, o morador ganha comodidade, fica grato ao porteiro, que naquele momento não se comporta como funcionário do prédio, mas sim como se fosse estafeta particular do condômino. 

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E é nesse ambiente de amizade e companheirismo que vemos o tema segurança patrimonial ser colocado em segundo ou terceiro plano.

Tenho certeza que o leitor deve estar querendo me fazer a seguinte pergunta:

Meu edifício apresenta todos esses problemas. Lordello, como resolver essa questão, pois temo que o condomínio seja invadido em razão de tanto amadorismo?”

Solução 100% não existe, mas é possível minimizar muito o risco ao isolar os porteiros das conversas informais com moradores e empregados domésticos.

Mas como isso pode ser feito?

Siga o roteiro de segurança para sua portaria:

1) Instale na alvenaria da guarita, no local da clausura de pedestres, passa volume de aço balístico e passa documentos

2) Instale nesse local interfone para que qualquer pessoa possa ter contato com o porteiro

3) Tranque a janela da guarita, pois todo o contato com o porteiro deverá ser feito através do interfone

4) Instale película de controle solar que impeça a visualização do interior da portaria

5) Estabeleça a regra que a porta da guarita deverá permanecer fechada e trancada todo o tempo e somente ser aberta na troca de turno dos funcionários, limpeza ou manutenção de equipamentos

6) Instale aviso na porta da guarita que a entrada de pessoas está terminantemente proibida

7) Instale câmeras de segurança nessas localidades, inclusive no interior da portaria, para ter certeza que as regras estão sendo respeitadas

Posso garantir que com a aplicação dessas estratégias a relação de intimidade entre moradores e funcionários da portaria será bastante reduzida. A experiência como especialista em segurança condominial indica que quando se isola o porteiro dentro da guarita fazendo com que todos os contatos externos sejam feitos através de interfone, é minimizada as tais proximidades afetivas que levam à diminuição do nível de segurança do local a ser protegido.

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