Por Fabíola Calixto e Cecília Q. Telles
O mundo vive um período diferente, cheio de medos e incertezas como há muito tempo não se via. A pandemia de COVID19 se espalhou pelos continentes e a todo instante vemos pessoas se contaminando, morrendo; os hospitais estão lotados. As notícias na TV, nos jornais e no rádio mostram números surpreendentes de pessoas esperando por uma internação sem saber se conseguirão um atendimento, um tratamento. Faltam leitos nos hospitais; nas UTIs e enfermarias. As unidades de saúde não dão conta de atender mais ninguém e o vírus atinge indiscriminadamente a todos. O medo cresce e a população começa a desenvolver outros tipos de doenças: a depressão, a ansiedade e o estresse.
A melhor maneira de se proteger do coronavírus é ficando em casa, em quarentena, mas essa prevenção agrava o quadro de doenças mentais. O longo período que já dura a pandemia, a falta de contatos sociais, a distância de amigos e parentes, o trabalho solitário online, o medo de contágio quando é inevitável sair para atividades essenciais ou de trabalho e o isolamento, tornam ainda mais intensos os estados depressivos.
Uma pesquisa realizada pelo Instituto de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) realizada entre os meses de março e abril de 2020, mostrou que os casos de depressão praticamente dobraram, enquanto os de ansiedade e estresse aumentaram 80% desde que a quarentena começou.
M.Cecilia Queiroz Telles – psicóloga e psicanalista (CRP/06-2238) “Esta pandemia está levando as pessoas a se isolarem socialmente, para prevenir o contágio. Muitas estão em home office, outras saem para trabalhar, mas evitam contatos, sempre que possível, com as pessoas a seu redor e estão constantemente em alerta, com o temor de se contaminarem e levarem o vírus para casa, contaminando os familiares. Reuniões com amigos, nem pensar. Isso tem feito com que muitas dessas pessoas começassem a apresentar sintomas de ansiedade e depressão, doenças únicas, mas que podem andar em conjunto. O coração e a respiração começam a bater mais forte, acelerado, surgem sentimentos de medo e apreensão. O coração bate mais forte a respiração acelera. Isso muitas vezes é um sentimento normal, mas quando isso se torna muito frequente é preciso ficar alerta pois se torna um quadro de ansiedade que necessita de medicação, psicoterapia, mudanças de estilo de vida.”
Em casa, durante o lockdown, o que tem ajudado as pessoas a se distrair ou a trabalhar é o uso da tecnologia. Além de fazer seus trabalhos, as pessoas também podem se atualizar profissionalmente, assistir filmes, conversar com amigos e, desta forma, evitar que o distanciamento social aumente a depressão, o estresse e a ansiedade ligados ao momento que todos estão vivendo. E qual a melhor maneira de usar a tecnologia para fortalecer a saúde mental?
A tecnologia já mostrou que pode ser uma grande aliada do controle emocional, encurtando distâncias entre os familiares e amigos. Seguem alguns exemplos de estratégias que podem apoiar esse processo:
1-) Trabalhos de fortalecimento emocional têm sido feitos por profissionais da saúde (médicos, psicólogos, nutricionistas, educadores físicos e coaches) no formato online.
Esses trabalhos têm sido aplicados em profissionais dentro e fora do ambiente de trabalho, por meio de trilhas de conteúdo criadas com exclusividade por especialistas em desenvolvimento comportamental.
2-) Outra opção têm sido os aplicativos que promovem terapia guiada. Nesse caso, o principal objetivo é auxiliar no processo de autoconhecimento, controlar a ansiedade e o estresse, proporcionar exercícios de meditação, entre outros pontos essenciais ao equilíbrio emocional.
Foto: Mulher fazendo meditação guiada online.
3-) As redes sociais, os aplicativos de comunicação, como por exemplo o WhatsApp, têm se firmado como ferramentas fundamentais para garantir a sociabilidade das pessoas de todas as idades.
Foto: Idoso com máscara usando o celular.
O estado de São Paulo, por exemplo, adaptou um de seus aplicativos e criou o Cérebro Ativo, especificamente para a população idosa: ainda em fase de testes, a ferramenta combina técnicas de gamificação, inteligência artificial e internet das coisas (IoT) para promover o cuidado da saúde mental da população idosa.
4-) Outra iniciativa é a plataforma Vizinho do Bem, idealizada pela startup NokNox, e que busca criar uma rede colaborativa conectando pessoas dispostas a ajudar àqueles que precisam de ajuda, por exemplo, para ir ao mercado, farmácia ou para um passeio com o bichinho de estimação. E a Mais Vivida é uma plataforma que reúne voluntários dispostos a apoiar um grupo de pessoas da terceira idade; inclusive, e principalmente, ensinando como navegar no mundo da tecnologia.
Que esse momento sirva de reflexão em relação ao autocuidado e a importância da saúde mental que muitas vezes não recebe a mesma atenção que a física.
Fabíola Calixto
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