Todo mundo sabe que sou uma mulher que apoia outras mulheres, o que talvez você não saiba é o que acontece quando me apresento como presidente de uma organização de mulheres e a repercussão dessa atitude no transcorrer da conversa.
Me perguntam se é um clube da Luluzinha onde homem não entra, respondo que pelo contrário, que incentivamos os homens a aderirem ao He for She da ONU Mulheres, um movimento de solidariedade para envolver os homens e meninos em ações pelos direitos das mulheres e meninas, afinal, não é uma questão de homens OU mulheres, mas sim homens E mulheres juntos por uma sociedade mais justa.
Percebo um sorriso no rosto do interlocutor que rapidamente começa a contar a admirável história da mãe e das mulheres incríveis que marcaram sua vida: as professoras, tias, irmãs, namoradas, mentoras e no final, invariavelmente comentam sobre a quantidade de mulheres em postos de liderança na empresa.
Se cheguei até aqui foi porque tive um pai que ao invés de contar histórias de princesas indefesas preferia contar histórias reais de mulheres pioneiras, cientistas, heroínas e ganhadoras de prêmios Nobel.
Então cresci e ao invés de procurar um príncipe encantado procurei uma pessoa real que soubesse me amar e respeitar do jeito que sou, cheia de defeitos e manias, mas também com muitas qualidades.
Encontrei! Importante frisar que não somos nenhum modelo de perfeição nem comercial de margarina, somos exatamente iguais a todo mundo, com direito a brigas e reconciliações, altos e baixos, um conflito aqui e uma declaração de amor ali e assim seguimos juntos há 38 anos.
Voltando ao assunto, respondo que as mulheres precisam de redes que ampliem suas vozes, proporcionem visibilidade e tragam à tona os desafios e barreiras que todas nós enfrentamos.
Segundo a ONU, as empresas lideradas por mulheres apresentam resultados até 20% melhores, uma prova que igualdade de gênero e diversidade são um bom negócio.
A OIT analisou mais de 70 mil entrevistas em 13 diferentes países e concluiu que empresas com mais mulheres em cargos de liderança apresentam ganhos em produtividade, rentabilidade, criatividade e inovação. A pesquisa ainda mostrou que 57% dos entrevistados perceberam melhorias na reputação e na imagem pública da empresa.
Então, porque é tão difícil encontrar mulheres em cargos de presidência, Conselhos e liderança? Mulheres políticas, chefes de estado, ministras?
Já ouviu falar em pisos escorregadios, escadas quebradas e tetos de vidro?
Pesquisas da CEPAL e ONU indicam que as mulheres na América Latina e Caribe dedicam o triplo do tempo que os homens em trabalho de cuidado sem remuneração.
O piso escorregadio diz respeito à enorme dificuldade que as mulheres encontram para sair do trabalho doméstico e ingressar no mercado de trabalho. São as que necessitam de apoio e capacitação para aprender a caminhar e não derrapar, não escorregar neste chão onde é tão fácil cair e permanecer paralisada e com medo, patinando sem sair do lugar, exausta e com nenhuma esperança.
Superando os pisos escorregadios, encontramos as “escadas quebradas”, neste caso, mulheres num nível intermediário de empoderamento econômico, com rendas instáveis e dificuldade de conciliar emprego, trabalho doméstico e cuidados com filhos e familiares. São as empreendedoras informais de produtos e serviços que na maioria das vezes exercem suas atividades de dentro das próprias casas e enfrentam uma exaustiva jornada tripla de trabalho.
Num nível mais elevado, encontramos os “tetos de vidro”, onde estão as mulheres com altos níveis de empoderamento econômico, profissionais destacadas nas suas áreas de atuação, exercendo cargos de liderança que mesmo assim percebem discriminação, brechas salariais e segregação ocupacional.
O teto de vidro é uma barreira invisível criada para evitar ascensão e reconhecimento profissional das mulheres, isto explica porque encontram menos oportunidades e possuem uma trajetória mais lenta do que os homens nas carreiras.
É evidente o elevado número de mulheres em cargos de gerência e o grau de dificuldade enfrentado para alcançar a presidência, a questão não é de competência mas por acharem que as mulheres apresentam menor produtividade, por suposições tais como: a maternidade vai interromper a carreira, temos menos tempo para trabalhar por conta de nossas obrigações domésticas, não conseguiremos conciliar vida pessoal e profissional, se nossos filhos ficarem doentes iremos faltar, somos emocionalmente instáveis e podemos chorar a qualquer momento, imaginam que somos desequilibradas e histéricas.
É, as mulheres enfrentam inúmeros desafios no seu dia a dia.… e desta vez nem vou comentar sobre a síndrome da impostora e as puxadas de tapetes.
Quantas mulheres tem dificuldade em aceitar elogios? Quantas se acostumaram a ter suas falas interrompidas? Quantas se sentem incapazes, inadequadas e absolutamente imperfeitas?
Precisamos reconhecer o nosso valor, elencar nossas inúmeras qualidades, nossos pontos fortes, nossos talentos individuais.
Precisamos aprender a olhar no espelho e enxergar uma pessoa capaz de sonhar, de realiza e liderar.
O lugar de uma mulher é onde ela quiser e não apenas onde lhe é permitido.
“O ato mais corajoso é pensar por você mesma. Em voz alta!” Coco Chanel
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