Lilian Schiavo: Sororidade.

A primeira vez que ouvi a palavra sororidade soou como poesia, eu estava pela primeira vez num congresso para mulheres empresárias de vários países.

Na época não entendia porque as mulheres precisavam se reunir, confesso que era uma ignorante que enxergava o mundo com lentes distorcidas.

Acreditava que as oportunidades eram iguais para todos. Que as mulheres podiam ser o que quisessem, ocupar todos os lugares, era só querer…

Fui criada ouvindo histórias sobre mulheres como a Madame Curie, Florence Nightingale, Joana D’Arc, histórias de mulheres samurais, guerreiras de várias tribos, mulheres que mudaram a história do mundo.

Lia os livros da Simone de Beauvoir com a minha mãe, e com ela conheci a Pagu, a Dandara e a Cleópatra.

Tive a liberdade de ser protagonista da própria vida, pude decidir a faculdade, a profissão, o marido, pude escolher ser mãe.

E com tantas escolhas pude acertar e errar sozinha, ser responsável por mim mesma.

Então vivendo assim, acreditava que todas as mulheres eram livres para ser o que quisessem.

Já estudei e trabalhei em ambientes predominantemente masculinos e minha “cegueira ” era tamanha que quando me tratavam com desdém ou desconfiança acreditava que era por causa da pouca idade ou experiência para ocupar cargos de destaque.

Precisei ouvir relatos de mulheres indignadas, mulheres sem voz, mulheres invisíveis, mulheres que tiveram que superar seus próprios medos e insegurança, mulheres com baixa autoestima, que sofreram assédio ou violência, que foram desrespeitadas.

A ficha caiu…na verdade desabou.

Percebi que vivia numa bolha, num castelo de faz de conta. Na real, as mulheres representam mais de 50% da população, somos maioria nos bancos universitários e minoria nos cargos de liderança.

Reeduquei meu olhar e minha escuta, mudei minha postura e refleti sobre quantas dores submersas existem em cada uma de nós.

Para chegar lá, e seja lá onde for, tivemos que superar obstáculos, quebrar correntes e tetos de vidro invisíveis, enfrentar barreiras escondidas e pisos escorregadios.

E exatamente aqui entra a sororidade, da palavra soror em latim que significa irmã. É criar um pertencimento, acolher como irmãs.

É olhar sem julgar nem competir, sem invejar ou puxar o tapete. É torcer pelo sucesso da outra, é se alegrar quando uma de nós consegue fazer algo incrível.

É entender que se outra mulher brilha, você pode aprender como ligar esse botão de luz. Ao invés de tentar ofuscar ou apagar, brilhe junto com ela, afinal, o sol está aí para provar que a luz pode iluminar e aquecer todos nós.

Então, na próxima vez que uma mulher subir no palco, não olhe se ela está acima do peso, não julgue se a roupa, o cabelo ou a maquiagem estão erradas, busque qualidades ao invés de defeitos, elogie ao invés de criticar.

De onde estiver, torça para tudo correr bem, para que ela não tropece, não caia, para que continue subindo… quem sabe na próxima vez será você que estará ocupando esse lugar porque ela te deu a mão, puxou, ensinou e subiu mais um degrau.

Sororidade é ter empatia, é se colocar no lugar da outra e entender suas dores. Cada uma de nós tem uma história diferente, com perdas, derrotas, sofrimentos e segredos escondidos como uma caixa de Pandora.

Por outro lado, temos dons e talentos, cada uma de nós é única como um tesouro escondido ou um diamante a ser lapidado.

Irmãs caminham junto, acalentam sonhos, se apoiam, riem juntas até a barriga doer e também choram juntas se necessário.

Uma defende a outra, afinal, mexeu com uma, mexeu com todas.

Irmãs podem discutir entre si, as ideias podem ser diferentes e isso é normal, aliás a diversidade traz novos aprendizados e faz bem para a alma.

Uma das curiosidades masculinas é entender por qual motivo quando uma mulher diz que vai ao banheiro as outras se levantam para acompanhar, imagino que é porque nascemos unidas e o mundo inventou artimanhas para dizer que somos inimigas e competitivas, quando na verdade, gostamos de viver em grupos, como uma alcateia.

Procurei no Google as características da loba e encontrei o seguinte: ” A loba tem sido um animal estigmatizado e muitas vezes menosprezado. Seu lado selvagem não é simplesmente pura ferocidade. Ela sabe como ser uma matriarca de sua matilha, sabe como guiar os seus. Ela é capaz de se tornar líder dos outros, sem medo e sem complexos.”

É, pelo visto, somos como as lobas.

“Seja a mulher que conserta a coroa de outra mulher, sem dizer ao mundo que estava torta. ”

 

Lilian Schiavo

 

**O conteúdo e informação publicado é responsabilidade exclusiva do colunista e não expressa necessariamente a opinião deste site.

 

Imagens: Freepik

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