Estive num congresso internacional de mulheres empresárias e pela primeira vez ouvi falar da terceira jornada, na hora senti um arrepio e quase caí da cadeira!!
Afinal, a dupla jornada de trabalho é uma realidade para praticamente todas que além da vida profissional cuidam dos afazeres domésticos e da família.
Sabemos que é impossível dissociar a vida em setores, não dá para ligar e desligar botões, fingir que está tudo sob controle.
Se você é das antigas como eu, provavelmente ouvia que ao entrar na empresa você deixaria os problemas particulares do lado de fora, como se houvesse uma linha imaginária… os melhores profissionais eram aqueles que independente do que estava acontecendo em casa trabalhavam como se usassem uma máscara de teatro.
Na época, os líderes eram autoritários, intransigentes e pouco afeitos a diálogos.
Percebeu que escrevi “os líderes”?
Para quem me acha uma chata, que insiste em falar sobre igualdade de gênero, te convido a buscar no Google a palavra chefe, o dicionário define como o indivíduo investido de poder para ocupar lugar de mando; pessoa que se destaca pelas qualidades, competência, poder de decisão, etc.
Aproveite e clique nas imagens e você vai encontrar fotos de pouquíssimas mulheres, mas muitos homens engravatados e com cara de poderosos.
Continuando a pesquisa, desta vez vamos escrever chefa e encontraremos a definição de mulher que exerce autoridade, que dirige certos estabelecimentos ou serviços; chefe… agora vamos ver as imagens? A maioria se refere a um filme chamado “A Chefa”, uma empresária rude, arrogante, desagradável e egoísta.
Será que algum dia você ouviu dizer que mulheres em cargos de poder são emotivas, neuróticas ou inadequadas? Se choram são infantis e descontroladas, se erguem a voz são histéricas, se pedem algo são mandonas… conheço algumas que só usam calças e evitam vestidos e tons de rosa, já vi algumas engravatadas e com gestos que imitam os homens, tem até aquelas que falam grosso e apontam o dedo no seu nariz.
Parece brincadeira, mas neste evento internacional cansei de ver mulheres pedindo licença para sair da sala porque precisavam atender os filhos, convencê-los a ir para a escola, a escovar os dentes, prometendo que a mamãe estará em casa no final de semana, tinha aquelas que tiravam fotos de tudo para enviar para a família, algumas administravam as compras de supermercado no meio de um debate.
Mas afinal, do que se trata a terceira jornada?
Vai parecer futilidade, frescura e falta do que fazer, mas neste evento a palestrante pediu que levantassem as mãos as mulheres que se preocuparam com o que levar na mala, quem se preocupou em fazer as unhas ou o cabelo? Quem comprou alguma peça nova? Um acessório, uma roupa ou sapato?
Quem ficou insegura com a própria imagem tentando ajeitar tudo numa minúscula malinha de mão para não ter que pagar para despachar bagagem?
Por outro lado, quantas de nós já viu um homem fazendo as malas para um congresso ou reunião? Eles são capazes de usar o mesmo terno por dias seguidos, alguns aparecem nas fotos com as mesmas roupas durante anos e ainda dizem que aquela gravata é de estimação ou dá sorte nos negócios.
Qual a diferença de tempo que homens e mulheres levam para se preparar para uma viagem a trabalho? Ou uma reunião importante? Pronto, descobri o que é a terceira jornada das mulheres, é mais um obstáculo para a vida empresarial das mulheres, mais um item a ser pensado e somado à síndrome da impostora, aos tetos de vidro e aos pisos escorregadios.
É por essas e outras que as mulheres precisam formar redes de apoio, sem competição, mas com compaixão e empatia, com sororidade e solidariedade, criando laços comerciais e de amizade, derrubando muros e construindo pontes, abrindo portas e janelas de oportunidades para que todas possam crescer.
Sejamos mulheres fortes e poderosas!
Finalizo com uma frase da Michele Obama:
“Pessoas que são verdadeiramente fortes elevam os outros. Pessoas que são verdadeiramente poderosas unem as outras. ”
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