Fábio Muniz: Os refugiados ucranianos estão chegando em Lyon

Bom dia meus queridos amigos.

Esta semana eu fiquei pensando nos lugares e oportunidades que mais mexeram comigo e me fizeram pensar em ser um melhor filho, um pai amoroso, um marido dedicado, e sobretudo um ser humano melhor, não foram as lindas cidades de Barcelona e Viena, tampouco Paris ou Londres.

A primeira vez que eu senti o presente, o passado e o futuro passando na minha frente como um filme no cinema, eu estava em Auschwitz, na Polônia. Foi ali onde o tempo parou bem diante dos meus olhos. Foi ali onde a minha prece foi para que a história jamais se repetisse.

Aliás, eu já escrevi no portal um texto sobre tal experiência. Caso você não tenha lido, eu te convido a ler Deixa o trem passar, eu, as minhas filhas e Auschwitz.

Ora, a minha viagem para dentro nunca mais parou.

De modo que ela só tem se acumulado na medida que os anos vão se passando, as primeiras rugas chegam, os cabelos vão se tornando grisalhos.

Como era o esconderijo onde viveu Anne Frank? | Super
Alemã Anne Frank – Superinteressante: ullstein bild Dtl./Getty Images

Por exemplo, você já ouviu falar da garota Anne Frank que se escondeu em Amsterdã com a sua família no período do Nazismo alemão?

Pois bem, quando eu ouvi falar da coragem desta menina, eu estava morando em Barcelona. Eu comecei a ler tudo sobre a sua vida, assistia todos os documentários, buscava artigos, etc. Obviamente, eu me debrucei com carinho no seu diário, e visitei em silêncio cada quarto da sua casa em Amsterdã na rua Westermarkt, número 20.

Eu me lembro que a experiência se tornou tão real que eu cheguei a imaginar que Anne Frank e a sua família sobreviveriam a perseguição maquiavélica do regime Nazista. Sabemos que infelizmente isto não aconteceu.

E mais ainda, eu me emocionei visitando a sinagoga de Budapeste, e descobrindo sobre Angelo Rotta. Angelo Rotta caso você não o conheça, foi um sacerdote católico e diplomata italiano que salvou milhares de judeus no período da segunda guerra mundial.

Na realidade, eu ainda me recordo quando me sentei diante do lindo memorial na sinagoga de Budapeste e fiquei pensando porque dezenas de vezes a história se repete e o ser humano comete os mesmíssimos erros.

Holocaust Memorial Center - Museu do Holocausto de Budapeste
“Da Privação de Direito ao Genocídio”. Este é o nome da exposição permanente do Museu do Holocausto de Budapeste, que busca recordar os mais de meio milhão de judeus húngaros que foram assassinados pelos nazistas – Fonte: Tudo sobre Budapeste.

Você ainda está comigo?

O meu preâmbulo ainda tem mais um parágrafo.

Eu poderia escrever um livro das experiências e lugares que me fizeram refletir sobre a nossa existência. Existência que é inegavelmente um “sopro de vida”.

Me desculpe pelo ocorrido" (visitando o Museu da Paz de Hiroshima) - Alma  de Viajante
Interior do Museu da Paz de Hiroshima – Fonte: A lmade viajante

Talvez a mais forte de todas estas experiências foi ter ido ao museu de Hiroshima. É no chão que se encontram as sombras de indivíduos que não sentiram que partiram, e assim, transcenderam esta dimensão em uma fração de segundos. As sombras permaneceram como testemunhas silenciosas de uma ação bélica sem precedentes.

Ora, uma ação daquela natureza jamais havia sido vista na civilização humana.

Isto posto, eu fico pensando o quanto a pandemia e o COVID poderiam ter nos unido e nos melhorado como seres humanos. Você se lembra como no início saíamos nas varandas e aplaudíamos os enfermeiros e médicos? Você se lembra quando as nossas preces independentemente do script religioso nos uniam em favor do ser humano fragilizado por um vírus desconhecido? No entanto, sutilmente as discussões políticas nos polarizaram. As medidas de saúde pública camufladas com marketing eleitoral nos dividiram. Eu percebi que estávamos perdendo a oportunidade de sermos melhores seres humanos.

Talvez você me pergunte, “Fábio porque você começou falando dos ucranianos e ainda não disse nada sobre eles?”

A razão é simples. A impressão que eu tenho é que “os céus” estão nos dando mais uma chance de ver que somos iguais independentemente da cor, classe social, diploma que alguém possa carregar, nacionalidade ou cultura que faça o indivíduo ser de um jeito ou de outro, ter características físicas ou linguisticas de um modo ou de outro. Simples assim.

Será que o ser humano não aprende com a história que está na esquina da existência? Será que o ser humano insiste em um projeto egoísta de poder e de ganância que vai do berço à sepultura? Será que o ser humano persiste em repetir os mesmos erros do passado ainda que este passado não seja um passado tão distante?

As famílias ucranianas estão chegando em Lyon. Eu observo um movimento entre diversas ONG’s. Eu observo o governo acolhendo. Eu observo o movimento nos nossos grupos de WhatsApp. Eu mesmo iniciei um grupo onde já muitos voluntários de diferentes nacionalidades, culturas e religiões estão se oferencendo para ajudar. Ajuda financeira. Ajuda linguística em Inglês, Francês, Italiano, Alemão, Russo, etc. Ajuda de ir até à estação de ônibus e levar estas famílias e malas às suas acomodações.

Enquanto eu escrevo esta coluna, a Johnna acaba de encontrar pessoalmente a primeira família de ucranianos. Eu, de todo o meu coração, espero que a humanidade abrace esta nova chance de ser, ser humano.

Fábio Muniz

Collonges-au-Mont-d’Or

 

**O conteúdo e informação publicado é responsabilidade exclusiva do colunista e não expressa necessariamente a opinião deste site.

Imagens: GETTY IMAGES

 

3 respostas

  1. Incrível como esses déspotas agem
    Sempre foi assim na busca por mais poder e territórios eles escravizam assassinam e condenam a morte milhões de inocentes
    Temos que acolher esses refugiados
    Mulheres e crianças porque as famílias foram separadas.
    Rezemos para que Deus ajude nosso mundo 🙏

  2. Deus os abencoe e capacite para continuar na luta de acolher e cuidar dessas pessoas que estao sofrendo tanto!Parabens pelo artigo!

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