Em latim, a palavra altar vem de altare, de altus, que significa “plataforma elevada”. Por isso, desde a remota antiguidade, um altar é um lugar elevado ou pedra consagrada que servia para a celebração de ritos religiosos dirigidos às divindades. Chamamos de oratório uma combinação de objetos que simbolizam a fé e a devoção das pessoas, ou o local que abriga estes objetos.
A origem dos oratórios remonta à Idade Média. Somente os reis possuíam um espaço destinado exclusivamente às orações, um cômodo que, feito uma capela, abrigava as imagens dos santos. Posteriormente, as famílias mais ricas e nobres também passaram a contar com altares particulares.
No Brasil, de acordo com historiadores, uma das caravelas que aqui aportou em 1500, trazia um oratório com a imagem de Nossa Senhora da Esperança. A partir daí, o hábito de proteger os santos em um local específico se disseminou pelas fazendas, senzalas e residências brasileiras através dos séculos.
No Vale do São Francisco, a fé que habita o rio invade as moradias ribeirinhas e toma forma nos mais variados oratórios e locais de devoção e oração. Estes oratórios tiveram uma forte presença na novela “Velho Chico”, folhetim que respirava religiosidade, mesclando santos do catolicismo popular a elementos de raízes caboclas e cafuzas, de crenças, lendas, assombrados e encantados.
Para a concepção destes oratórios, o diretor Luiz Fernando Carvalho convidou o seu parceiro artístico há mais de dez anos, o artista plástico Raimundo Rodriguez que, junto com sua equipe, também foi responsável por altares, estandartes, santos, e todos os objetos pertinentes à religiosidade nordestina. Ao todo, foram mais de 500 elementos.
A excelência de seu trabalho consiste em não criar cenários, e sim verdadeiros ambientes artísticos, onde atores, diretores e equipe respirem a cena, vivenciem o texto e se transportem para a nova realidade, através das imagens que estão vendo e com as quais estão contracenando.
Para os altares e oratórios, Raimundo utiliza objetos simples do dia-a-dia, muitas vezes reciclados. São objetos que o artista assume serem significativos e valiosos sentimentalmente para os personagens, que os teriam disposto em seus oratórios com esmero e cuidado, tornando-os assim, sagrados. Um lenço de bolso, um punhado de flores, ou um simples vidro de perfume que trazem consigo um significado afetivo para os personagens, associados às imagens de seus santos e crenças, assumem um novo papel, praticamente vinculado ao divino.
Talvez sua maior criação para o folhetim tenha sido um altar de oito metros de altura por seis metros de largura, feito para o Convento de Santo Antônio, em São Francisco do Paraguaçu, na Bahia. O altar foi todo construído com material reciclado. Durante aproximadamente um mês, sua equipe transformou materiais como tubos de PVC, plástico e papelão, mais uma estrutura metálica e outras sobras de elementos descartados das cidades cenográficas dos Estúdios Globo, no belíssimo altar que cruzou o sertão para servir de palco para o casamento de Afrânio (Rodrigo Santoro) e Leonor (Marina Nery) nos primeiros capítulos da trama. A peça foi um belo exemplo do “transformar o desprezo em objeto de desejo”, lema de Raimundo Rodriguez. UNIÃO – O Jornal do Norte do Paraná, disponível em < http://www.jornaluniao.com.br/noticias/44957/velho-chico-saiba-tudo-sobre-a-nova-novela-da-globo-que-estreia-na-segunda/> . Acesso em 2 de fevereiro de 2018.
Na semana que vem, chegaremos em ritmo de Carnaval! Até lá!
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CRÉDITOS PRODUÇÃO DE ARTE VELHO CHICO
Produção de Arte: Myriam Mendes
Produção de Arte Assistentes: Adriane Lemos Mroninski, Alda Gonçalves, Bia Perdigão, Bianca Romano, Claudia Margutti, Deborah Badauê, Emily Dias, Fred Klaus, Gabriel Camilo, Leonardo Pimenta, Luisa Gomes Cardoso, Marcello Villar, Marcia Silva, Maria Fernanda Martins Costa, Renata Marques, Sabrina Travençolo , Sandra Leite.
Equipe de Apoio a Arte: Thiago Leal, Raif Nascimento Roosevelt, Fabio Sobral, Rafael Guedes, Alex Lemos e Raquel Santos
Aderecistas: Regina DalleGrave, Alê Ferreira, Celso Menguelle, Guilherme Zagallo, Roniere Odelli, Newton Galhano e Sandra de Sá-Fortes Gullino, Alícia Ferraz, Markoz Vieira e Thereza Moraes.
Produtora de Arte / Participação Especial nos Primeiros Capítulos: Ana Maria Magalhães
Artista Plástico: Raimundo Rodriguez
Artista Plástico responsável pelas embarcações: Anderson Dias
Profissional de Cinema e Televisão, formada pela Boston University College of Communications em Broadcasting and Film. Com uma vasta experiência na área, passou os últimos 17 anos trabalhando como Produtora de Arte na TV Globo, desenvolvendo suas atividades tanto em Novelas e Seriados, como em Programas de Variedades (Caminho das Índias, Salve Jorge, Araguaia, Chocolate com Pimenta, Caldeirão do Huck, Malhação, Tamanho Família, Adnight, entre outros). Atualmente, trabalha independentemente em projetos culturais e na área de entretenimento. De natureza investigativa e curiosa, compartilha também a coluna sobre a nossa complexa e labiríntica língua portuguesa.
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