Kacau: Hoje é dia de “FALA DOUTORA!”

Temas relacionados à saúde, estão entre os mais procurados da internet, principalmente pelas mulheres. Mas as buscas feitas aleatoriamente através de sites de busca, nem sempre são seguras, e não são recomendadas. Quando o assunto é saúde, é preciso ter a certeza de que toda e qualquer informação venha de um especialista.

Para atender a esse público e suas necessidades, o Portal do Andreoli criou a coluna FALA DOUTORA!, que também é publicada nas terças-feiras, escrita pela Ginecologista e Obstetra, Dra. Letícia Bellusci, especialista da área, que hoje, em entrevista ao Portal News, nos contará um pouco mais sobre sua vida, sua carreira, e também vai esclarecer alguns temas sobre o assunto.

Dra. Letícia Bellusci
  1. Como aconteceu a escolha profissional pela ginecologia e obstetrícia ?

Durante toda a faculdade, eu sempre almejei e me dediquei à residência médica em cirurgia geral. Porém, no sexto ano, percebi que não sabia o que gostaria de fazer após cirurgia geral. Não me identificava com nenhuma sub-especialidade. Então decidi não prestar residência no último ano. Comecei a trabalhar e a estudar para as provas de residência, sem saber o que queria. Foi uma época muito legal, gostava de trabalhar na emergência, e finalmente estava ganhando um salário. Em um dos plantões que fazia no interior do Rio de Janeiro, fiz um parto normal e o colega obstetra que estava comigo no dia, me abriu o olho para a ginecologia e obstetrícia-GO. Me mostrou o leque de oportunidades que essa especialidade poderia abrir para mim no meu futuro. Depois desse plantão, comecei a ler e procurar mais colegas que tinham feito Ginecologia e Obstetrícia, e me identifiquei, percebi que era isso que eu queria para minha vida. 

 

  1. Qual o problema mais comum, na saúde das mulheres hoje em dia?

Acredito que doenças relacionadas à obesidade e aos maus hábitos de vida, como sedentarismo e o abuso de alimentos industrializados. O acúmulo de gordura abdominal aumenta o risco cardiovascular e a resistência insulínica. Esse último pode levar a síndrome do ovário policístico, diabetes e até mesmo a candidíase de repetição. E não podemos deixar de lado o grande número de mulheres com depressão. Devido as alterações hormonais que ocorrem no pós parto, nós temos maior chance de desenvolver um transtorno psiquiátrico quando comparado ao homem, e nosso estilo de vida contribui para que isso ocorra.

 

  1. Doutora, nos fale um pouco da importância da consulta periódica, e que problemas podem ser evitados com esse cuidado.

O ginecologista é o clínico da mulher. Além de fazer exames de prevenção para câncer de mama e colo uterino, é nossa responsabilidade avaliar a paciente como um todo. Avaliar risco de diabetes, patologia tireoidiana, dislipidemia (colesterol alto), hipertensão arterial, osteoporose, síndrome metabólica, entre outras patologias. A paciente que faz uma consulta periódica com um ginecologista tem menor chance de evoluir para uma fratura de fêmur, por exemplo, pois faremos a profilaxia de osteoporose antes que essa se instale. Além de ser mais provável descobrir câncer de mama e colo uterino nos estágios iniciais, melhorando o prognóstico da mulher.

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  1. Sabemos que o parto normal oferece melhores condições ao bebê e à mãe, mas ainda assim, as mulheres optam mais pelo parto normal ou cesariana?

As mulheres continuam optando mais pela cesárea, pela falta de informação. A cultura de cesárea no nosso país vem de muito tempo e é oportuna para os obstetras no geral. Então, para mudar isso, vai demorar muito tempo. Mas já estamos no caminho!

 

5. Congelar óvulos! Um assunto muito comentado, procurado e até polêmico. Até que idade é possível fazer a coleta? Qual o custo e risco desse processo?

Não existe uma idade certa, depende da reserva ovariana da mulher. Tem mulher que com 30 anos tem baixa reserva e tem mulher com 40 anos que tem boa quantidade de folículos, mesmo não sendo comum. Portanto precisa avaliar cada caso. O importante é todas mulheres saberem que nossa fertilidade cai muito a partir dos 30 anos. Portanto é muito bem indicado para quem pensa em focar na carreira e deixar a maternidade mais para frente. Os custos variam de acordo com as clínicas que oferecem esse serviço, mas fica em torno de R$ 20.000,00. Acho muito legal contar que existem clínicas que diminuem bem esse valor para pacientes que precisam congelar por conta de tratamento de câncer. O risco maior é de hiperestimulação ovariana. Quando vamos fazer uma reserva, usamos medicações para estimular o ovário a produzir uma boa quantidade de óvulos. Para que assim consigamos reservar um número bom. Esse processo pode levar a essa hiperestimulação, normalmente é um quadro leve de dor abdominal, mas quando feito de modo inadequado, pode ser muito grave, necessitando de internação em UTI. Por isso precisa procurar uma clínica de fertilidade de referência para realizar o procedimento.

 

  1. Quantos partos você já fez? Algum que lembre uma situação especial que possa partilhar conosco?

No meu primeiro ano de residência, eu anotava todos os partos, escrevia até o nome do bebê!!! Foram 350 partos no primeiro ano. Depois disso eu parei de contar, devido a correria, fui me perdendo nas contas infelizmente. Me lembro de um parto que fiz logo no início, em que a mulher chegou com dilatação total. Então, nem tive tempo de examinar, só de segurar o bebê. Era uma moça que já tinha 5 filhos, todos meninos e estava nascendo mais um menino. Logo depois que o bebê nasceu, a mulher começou com contrações, voltei a examinar e estava nascendo mais um bebê! Eram gêmeos!!! E ela não sabia. Havia feito um único ultrassom do pré-natal que falava somente do bebê. E quando nasceu o segundo, vimos que era uma menina!! Ela ficou muito feliz, todo mundo ficou muito emocionado com essa família!

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  1. Como você concilia a maternidade e vida pessoal com a profissão?

Quando as meninas nasceram, foi muito difícil para mim, pois estava acostumada com um ritmo de trabalho muito intenso. E apesar da maternidade ser um sonho para mim, a gente só tem noção do que realmente é quando passa por ela. E a medicina também é meu sonho, eu amo meu trabalho e sem ele é como se uma parte minha deixasse de existir. Então logo que eu pude, comecei a trabalhar muito, aceitar muitos empregos e havia passado em um concurso público. Porém, com o tempo percebi que estava em falta com minhas filhas, mas agradeço por ter percebido isso logo, com elas ainda bebês. Então, me demiti de dois hospitais.  Hoje trabalho no meu consultório, pois assim posso conciliar meus horários com o das meninas, e passar mais tempo com elas. Desse modo consegui me dedicar mais às minhas pacientes, as quais são uns amores e tem muita empatia com essa mamãe de duas aqui.

 

  1. Nas horas de folga, quem é a Doutora Letícia e o que mais gosta de fazer?

Sou uma pessoa muito tranquila, amo curtir minhas filhas e meu marido  nas horas livres. Gostamos muito de viajar, passear, brincar com elas, assistir filmes, ler livros, gostamos de uma comida boa e de um bom vinho também!

 

  1. Qual a missão de um ginecologista e obstetra?

Acredito que o ginecologista tem o dever de atuar na saúde integral da mulher. Informando e cuidando da mulher como um todo. O obstetra tem duas vidas nas suas mãos, e uma enorme responsabilidade. Ninguém espera que ocorra algo errado no nascimento de um filho, pois é o momento da mãe e da família toda. Mas penso que a minha grande missão é fazer tudo isso com respeito e humanização, empoderando mulheres.

 

  1. Um conselho que você daria aos profissionais da sua área, que estão entrando no mercado?

Trabalhe em equipe, não tenha medo da concorrência. Faça seu trabalho bem feito e com amor, tem espaço para todos. Ao trabalhar em equipe crescemos mais rápido, mais fortes e conseguimos ter qualidade no trabalho. Podemos montar protocolos e discutir casos, além de conseguirmos fazer uma escala, assim, todos conseguem tirar férias e ter qualidade de vida.

 

Dra. Letícia Bellusci também é autora da coluna FALA DOUTORA! A coluna é publicada todas as terças-feiras, aqui no Portal do Andreoli!

 

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