A equidade de gênero visa eliminar toda e qualquer discriminação contra a mulher, numa reparação histórica para estabelecer a igualdade entre homens e mulheres.
Enquanto a igualdade busca tratar todas as pessoas da mesma forma, a equidade trata as pessoas de formas diferentes… entendeu? Aposto que te deixei confusa.
A equidade reconhece que o mundo vive num desequilíbrio e por isso não podemos imaginar que ao dar a mesma coisa para pessoas diferentes, o resultado obtido será o mesmo.
Exemplifico com um exemplo clássico, imagine uma partida de futebol sendo jogada num campo, separado da rua por um muro alto. Do outro lado do muro estão 3 pessoas com diferentes alturas querendo assistir o jogo e 3 escadas com medidas diferentes. É óbvio que a escada maior deve ficar com a pessoa mais baixa enquanto a escada mais baixa com a pessoa mais alta.
O que acontece é que o óbvio nem sempre é percebido e costumamos imprimir o mesmo tratamento para todas as pessoas sem enxergar as diferenças.
Para praticar a equidade dentro das organizações, as ações precisam partir do alto escalão, envolver toda a diretoria, os departamentos e funcionários. É necessário ter líderes inclusivos com o propósito de transformar o mundo num local mais justo, ético e sustentável.
O primeiro passo é educar a sociedade para modificar alguns absurdos aceitos e enraizados.
Para conscientizar a população, a ONU publicou um vídeo onde meninos e meninas são convidados para participar de uma experiência. Bolas de cores diferentes estão espalhadas pelo recinto e cada casal de crianças é orientada a depositar as bolas num recipiente de acordo com a cor. É um trabalho em conjunto, executado igualmente por todos.
No final elas são recompensadas com recipientes transparentes preenchidos com doces, a diferença é que as meninas recebem uma porção visivelmente menor, mas ao perceberem, os meninos intuitivamente dividem seus doces para que cada casal fique com a mesma quantidade de recompensa, ou seja, de doces.
Na tela de vídeo, um texto explica que no mundo as mulheres recebem salários em média 20% menores que os dos homens.
Precisamos educar nossas crianças de forma que entendam que o serviço doméstico não é exclusividade feminina, que a violência doméstica não é hereditária, que é inadmissível tratar as mulheres como se fossem seres inferiores ou incapazes, temos que ensinar os homens a respeitarem o tempo de fala de uma mulher sem interromper.
É preciso apontar quando o Conselho de Administração ou um evento de negócios só mostra homens engravatados e nenhuma mulher.
Eu fui convidada para ser a primeira mulher a integrar o Conselho Consultivo de um Instituto porque o presidente ao me mostrar todo orgulhoso a composição do Conselho foi indagado por mim: Parabéns pelas escolhas, mas onde estão as mulheres?
Ele ficou visivelmente perturbado, disse que não havia percebido, que tem uma filha e gostaria que ela vivesse num mundo mais igualitário. Pediu desculpas por ter inconscientemente praticado uma discriminação contra as mulheres.
Atualmente, esse Instituto tem mais mulheres do que homens na diretoria.
As mudanças ocorrerão quando entendermos porque nos hospitais existe um protocolo que prioriza os pacientes mais graves para serem atendidos antes dos pacientes menos urgentes. Pense na tragédia se alguém que chegar infartando tiver que esperar sua vez por ordem de chegada, tendo na frente 3 pacientes com resfriado, 1 que torceu o pé no jogo de futebol e outro que está com problemas na coluna… se ele não puder passar na frente de todos, provavelmente vai morrer enquanto aguarda sua vez.
Equidade é entender que países com grande desequilíbrio social necessitam de políticas de cotas para democratizar o acesso ao ensino superior, programas que incentivem a participação das mulheres em cargos na política, na liderança das empresas e em todas as esferas da sociedade.
É lembrar que as crianças que vivem em condições de vulnerabilidade precisam que o governo providencie internet e computador para poder estudar.
Pensando nas mulheres, muito além da igualdade salarial, devemos lutar por igualdade de oportunidades, de linhas de crédito, de direitos garantidos, as mulheres são maioria na população, maioria nos bancos universitários e nos cursos de mestrado mas infelizmente minoria no C-Level.
A busca pela equidade deve envolver a sociedade como um todo, deve promover o He for She, um movimento que tem como objetivo engajar homens e meninos num chamado para que a sociedade como um todo pratique ações que possam acelerar a estimativa de mais de 100 anos para alcançar a tão sonhada igualdade de gênero.
Segundo o Índice de Gênero dos ODS 2022, o Brasil ocupa a 78º posição no ranking que mede igualdade de gênero em 144 países.
É… temos um longo caminho pela frente mas não podemos desistir, sou otimista por natureza e persistente por caráter, aprendi a incomodar, a notar a ausência de mulheres nas reuniões, a falar sem cansar, com doçura e com afeto mas também com firmeza e indignação.
Sigo com fé e esperança por dias melhores, por um futuro onde não haverá mais necessidade de discutir este tema, sonho com o dia em que quando contarmos as histórias absurdas que vivemos as pessoas nem acreditarão, imaginarão que estamos inventando, dirão que é impossível que as pessoas algum dia foram tratadas com discriminação, desigualdade, preconceito, injustiça e hostilidade.
“Ainda existem muitas causas que valem o sacrifício, muita história ainda há de ser feita.” Michelle Obama
Lilian Schiavo
**O conteúdo e informação publicado é responsabilidade exclusiva do colunista e não expressa necessariamente a opinião deste site.
Imagem: Rh pra voce (site)
