Lilian Schiavo: Uma lição de vida

Você já deve ter ouvido falar que quando nasce uma criança, nasce uma empreendedora, sem dúvida nenhuma o momento da maternidade é um divisor de águas na vida das mulheres e uma das questões cruciais envolve o retorno ao trabalho.

Ficamos com aquela dúvida se vale a pena deixar os filhos e sair para trabalhar, se abandonamos a carreira e partimos para um home office ou alguma atividade que permita ter horários mais flexíveis, ficamos com remorso pelo tempo que estamos longe de casa, será que vale a pena continuar ou é melhor se dedicar ao lar?

No meu caso, optei por trabalhar e sei o preço que paguei por isso. É sair de casa ouvindo a filha chorar pedindo para a mãe não ir, é ficar com o coração cortado quando o filho ao voltar da escola conta que teve uma atividade onde todas as mães estavam presentes menos as “mães de saias” (era assim que ele se referia a mim e a outra mãe que como eu não conseguia participar de algumas reuniões em horários de trabalho) , é ter que escolher uma creche para eles ficarem desde muito pequenininhos…

É receber um telefonema da escola dizendo que seu filho se machucou no parquinho, está na enfermaria e pedindo para  vir buscá-lo mas você está distante e atravessa a cidade correndo feito uma louca mas não esquece de desmarcar a agenda do dia. Sem contar quando eles ficam doentes, com febre e você precisa confiar que outras pessoas irão cuidar bem deles e administrar a dose exata dos medicamentos.

Em compensação, cada minuto com eles era aproveitado ao máximo, era a chance de ensinar, dar exemplos, conversar, beijar e abraçar muito. A hora de dormir era a hora de ouvir histórias, contei tantas que chegou uma hora em que criei um personagem que eles lembram até hoje.

Explicava para eles que precisamos trabalhar, que a vida não é fácil mas é desafiadora, que podemos cair mas o importante é levantar novamente. Mas ficava a dúvida se eles tinham entendido, será que fiz a escolha certa? Até que inesperadamente nos deparamos com o inimaginável, uma daquelas situações que só acontecem em filmes ou com outras pessoas, um balde de gelo desabou sobre a minha cabeça, o chão desapareceu com uma triste notícia.

Então minha filha me deu uma lição de vida, de fé, de coragem e determinação.

Para explicar o que aconteceu transcrevo o texto escrito por ela:

“Vamos lá, vou tentar contar um pouco do que aconteceu. Há dois meses levei um grande susto.
Descobri um tumor cerebral.
Sintomas? Nenhum! Muito pelo contrário, estou na minha fase mais saudável.
Alimentação, treinos, descanso, checkups periódicos, tudo perfeito.  Foi um achado!
Ganhei na loteria.  Descobri em uma ida ao PS pois estava com dor de cabeça tensional durante dias e não passava com remédio. E no fim, essa dor não tinha relação com o tumor, era apenas um empurrãozinho lá de cima para eu ir para o hospital. Logo eu, que não vou no hospital tão fácil assim, fui por causa de uma dorzinha.
Ao invés de ficar me lamentando e questionando porque isso aconteceu comigo, enxergo que sou uma pessoa abençoada. Não vou mentir, os primeiros dias com o diagnóstico de tumor cerebral foram assustadores, fiquei com medo, com raiva, triste, mas do dia que recebi alta do hospital da primeira vez que fiquei internada, nunca mais derramei uma lágrima por estar “doente” (doente entre aspas porque em momento algum me senti assim), nunca mais questionei porque isso estava acontecendo comigo. Levantei e resolvi encarar que tive sorte por ter descoberto cedo, agradecer que ele ainda não tinha causado mal nenhum para minha saúde e que eu estava em perfeitas condições de passar por uma cirurgia de retirada. Passei por diversos médicos, e todos falaram a mesma  coisa: foi um achado!
Provavelmente eu só iria descobrir quando estivesse com alguma função cerebral afetada e iria investigar e descobriria talvez um tumor gigante inoperável. Então porque lamentar se as condições são favoráveis e eu ganhei essa oportunidade?
Faz menos de uma semana que passei pela cirurgia. Foi tudo ótimo, o neurocirurgião conseguiu retirar todo o tumor. Estou MUITO bem! Obrigada pelo cuidado dr! Obrigada Deus, obrigada vida pela segunda chance!
Obrigada sem fim para minha família que teve que encarar tudo isso comigo, obrigada amigos pela força, carinho imenso, cada oração e energias positivas! Tudo isto está armazenado no meu coração  (e no meu cérebro hahaha) com muito amor e carinho! Estou muito bem!

Minha filha tem 26 anos de idade e agora sou eu que aprendo com ela.

“Amor Vincit Omnia. (O amor vence todas as coisas).” Caravaggio

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