Márcia Sakumoto: Japão, etiquetas e regras indispensáveis

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O Japão é um país bastante organizado e politicamente correto. Existem etiquetas, regras e disciplinas ensinadas desde o nascimento e seguidas por todos, de pai para filho, além de ser uma cartilha nas escolas também.

A maioria costuma seguir a etiqueta e as regras, talvez por isso o país seja mais seguro, mais educado, com uma vivência em grupo mais respeitosa, controlando melhor algumas situações.

Há até uma denominação para quem possui essas características de maneira mais acentuada: MAJIME. Calma!! Não estou xingando ninguém, pelo contrário é uma expressão positiva, um elogio. Normalmente, essa palavra é usada para pessoas que classificamos como “certinhas”, que nunca se aproveitam de algo, cumpre regras e etiquetas, não se atrasam, procuram realizar tarefas com disposição e com essa postura costumam viver bem, sem se estressar com conflitos desnecessários.

Mas vamos voltar nas etiquetas e regras indispensáveis.

Ojigi (O ARCO) refere-se ao movimento de curvar o corpo para frente. É uma reverência que demonstra respeito entre as pessoas, é um ensinamento vindo do budismo chinês usado também para desculpas e demostração de gratidão.

Os diferentes graus de curvatura e as pausas na posição demostram respeito e admiração devendo sempre seguir uma  hierarquia.

Os homens deixam as mãos retas, alinhadas ao lado do corpo ou podem também juntá-las na frente do corpo. As mulheres sempre devem juntá-las na frente do corpo.  

Vamos entender melhor!

Nos encontros informais com familiares e amigos é feito um arco simples com 5 graus de curvatura chamado de MOKUREI, em agradecimento ou cumprimentando alguém. A curvatura de 15 graus chamada de ESHAKU, em situações de negócios. Em respeito à alguém mais velho ou superior ao seu status deve usar a curvatura de 30 graus chamada de KEIREI. O SAKEIREI com 45 graus de curvatura deve ser usado em pedido de perdão no caso de um forte sentimento de culpa por alguma situação e também usado para mostrar respeito por alguém que possui um nível de status mais elevado, como o imperador. O DOGEZA na posição de joelhos com as mãos e testa no chão se refere a algo desonroso como um erro que ocasione a morte de outra pessoa. Porém comum também usar o dogeza nos templos xintoístas como uma reverência aos deuses, sendo que esse é o arco de maior grau de respeito.

Nas escolas todos os alunos iniciam e finalizam  as aulas, reuniões e cerimônias cumprimentando professores na curvatura keirei, assim desenvolvendo o respeito e a disciplina desde do início.

Quando usamos o ojigi

Ao dizer Oi ou adeus a alguém.

Início e término de aula, reunião e cerimônia.

Demonstração de gratidão.

Pedido de desculpas.

Parabenizando alguém.

Pedindo um favor.

Para atos religiosos em templos e santuários.

Primeiramente falamos e em seguida vem o cumprimento reverenciando com ojigi, a cabeça e a coluna devem estar alinhadas, conforme descrevi, e o olhar voltado para baixo.


A expressão Sumimasen, que significa desculpas, ao ser usada deve ser sempre seguida por um ojigi. Também utilizada para pedir licença ao passar ou esbarrarmos em alguém.

Há outras palavras que possuem o mesmo significado, mas vamos deixar para um outro momento.

Omiyage é uma lembrancinha que levamos de presente ao visitarmos a casa de alguém, normalmente doces. Depois da Segunda Guerra Mundial, os doces passaram a serem visto como sinônimo de prosperidade. Se caso estiver voltando de viagem do seu país ou de outro lugar é delicado trazer um omiyage típico da região visitada para o trabalho e distribuir aos colegas, podendo também presentear amigos e familiares.

Uma regra imperdoável no Japão é não retirar os sapatos ao entrar em casa e estabelecimentos, considerado um grande desrespeito, o qual devemos ficar bastante atentos. Ao adentrarmos devemos dizer OJAMA SHIMASU (com licença, desculpe por incomodar) e trocar os sapatos pelos chinelos (suripa).

Existem muitas lojas de conveniência no Japão facilitando aquele momento do lanche rápido, porém comer em pé ou andando pelas ruas não é nada educado por aqui, o que torna comum vermos as pessoas paradas nos estacionamentos dentro de seus carros degustando seus lanches rápidos. Caso esteja a pé, é recomendado levar o alimento para casa ou trabalho.

No Japão não se dá gorjetas para ninguém.  

Fumar andando também é considerado falta de educação, aliás em determinadas ruas é caso para multa. Em alguns restaurantes os ambientes são divididos em área de fumantes e não fumantes. Nos shoppings há salas apropriadas para fumantes. Realmente não vemos pessoas fumando fora dos locais especificados, nem bitucas de cigarros pelas ruas. Lojas vendem pequenos cinzeiros portáteis de bolsa, caso o fumante não tenha onde dispensar as bitucas de cigarros. As lojas de conveniência também possuem uma área externa com cinzeiros para fumantes, possibilitando uma tragadinha. Isso tudo contribui para uma cidade mais limpa não acham?  

Os celulares também possuem regras rigorosas de uso. Nos trens, metrôs e ônibus os celulares devem estar no modo silencioso, não é permitido usar o celular nos transportes públicos, somente SMS e email, assim como em lugares públicos deve-se ter uma coerência em não perturbar as outras pessoas.

Nos hospitais os celulares devem estar desligados para não dar interferência nos aparelhos médicos, assim como não incomodar as outras pessoas, principalmente os internados. Em clínicas, cinemas, teatro e outros estabelecimentos o modo silencioso deve estar ativado. Caso precise atender uma ligação, deve-se sair do ambiente ou ir para áreas apropriadas de uso.  

Os japoneses utilizam trens e metrôs diariamente, os embarques nos trens e coletivos possuem regras definidas, sinalização respeitada e horários pontuais. As portas do metrô se abrem, uma multidão aguarda, mas ao contrário do que se imagina tudo corre perfeitamente com muita organização e educação, todos embarcam e seguem sua viagem.

Como conseguem ser tão organizados? Resultado das etiquetas e regras.

Assim que abrem as portas somente adentram ao vagão após a saída do último passageiro que estava embarcado, enquanto isso aguardam tranquilamente na área reservada para espera. Mas tem uma curiosidade: nos horários de pico há o auxílio dos empurradores de trem, (gente, é real!!) eles ficam do lado de fora do trem empurrando respeitosamente a galera para dentro para conseguir fechar as portas e o trem não se atrasar.  


E, acredite, os trens não se atrasam praticamente nunca, caso ocorra terá um aviso nos letreiros eletrônicos. Mas atenção! Não ceda seu assento para um idoso, ele pode se ofender. 

A organização começa nas escadas ou esteiras rolantes, devemos deixar o lado direito livre para quem tem pressa e quer ultrapassar, usamos o lado esquerdo para permanecermos parado aguardando a velocidade da escada rolante.
A uma exceção na cidade de Osaka, o lado livre é o esquerdo sendo o contrário de outros lugares.

Nos elevadores a etiqueta dominante é do primeiro que entrar comanda a porta, ou seja, é o ascensorista, deve ser o último a sair, segurando a porta para os outros. Normalmente seguindo uma hierarquia.

Em transações de negócio são primordiais os MEISHI, cartões de visita, que são trocados quando uma pessoa é apresentada a outra pela primeira vez. Após o ojigi, os meishi devem ser entregues em ocasiões formais e aceitos com ambas as mãos com a frente virada para cima de forma que a outra pessoa consiga ler. Observe o cartão das pessoa memorizando o nome da mesma.

Em meio a tantas regras precisamos estar atentos, trabalhando também outros incentivos para não acabarmos robôs ou pessoas inseguras em expor as próprias ideias ou com incapacidade de autonomia nas soluções, sendo limitado por suas asas cortadas.  

Enfim, etiquetas ou regras realmente fazem diferença, e são bastante notórias no Japão, afinal o país funciona no formato: gentileza gera gentileza.

Até domingo que vem!!!
Sayonara!

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