Paty Moraes: Cerveja de mulher e cerveja de macho

Não me lembro ao certo como comecei a gostar de cerveja, mas certamente foi durante esses dias e noites quentes de verão, quando faz 40 ºC na sombra em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo. Lembro-me de tomar vinho doce de mesa, caipirinha de vodka, keep cooler e jurupinga como outros jovens maiores de idade e, logo em seguida, nunca mais tomar nada disso e só gostar de cerveja durante os últimos 16 anos.

Pode ter sido no bar e xerox do Seu Alcides, em frente ao Campus da Unaerp, na época em que cursava jornalismo. Era tanta cópia de livro entre uma aula e outra, tantos intervalos convidativos… Bebíamos Antartica, Skol ou Brahma, e era isso o que tinha no geral!

Pode ter sido na época em que ajudava a minha mãe nas faxinas de sábado. Ela pingava de tanto suor das nove ao meio-dia. Ao final do trabalho pesado, sentávamos no quintal dos fundos com uma garrafa de cerveja e copos recém-tirados do freezer. Ah, que delícia! Até hoje fazemos isso quando vou à casa dela.

Pode ter sido também por influência do meu avô materno, que morou com a gente durante a minha infância e adolescência: ele me dava a “espuminha da cerveja” ou colarinho do copo dele (e também fazia a minha barba). Minha mãe ficava maluca com isso!.

Todas essas lembranças sempre me vêm à cabeça, principalmente no verão, quando nada refresca tanto o corpo e a cabeça quanto um happy hour com amigos. Salivo só de pensar, e dá vontade de largar essa coluna por aqui e abrir uma gelada lupada, IPA ou Weiss (o gosto mudou muito com a oferta variada).

 

Cerveja de mulher e cerveja de macho?

E por ser mulher e consumidora de cerveja (mesmo!), sinto-me no direito de dizer que não foi legal botar a palavra “Mulher” no rótulo rosa de uma cerveja adocicada (uma amiga experimentou, digamos, por engano) e dizer que ela tem uma fórmula de rosa vermelha delicada porque é para mulher. Um amigo me questionou: “Você toma e se sente mulher? É cerveja com estrogênio?”. É rir pra não chorar!

E, ainda, ao mesmo tempo, a mesma empresa lançou a cerveja “Forte” para o homem “macho”. Que “close errado”!

 

Sugestões

Tem tanto afeto em torno de um gole gelado, tanta conversa boa entre mulheres quando a gente se encontra no bar para conversar, tanta storytelling pronta, como as memórias que citei acima, para embalar uma campanha… E tem tanta mulher competente e maravilhosa precisando de respeito em rodinhas de sommelier de cerveja, tanto feminismo gritando alto e pedindo o fim de rótulos.

Costumo dizer que o Brasil poderia ter o Ministério Vai Dar Merda (VDM). Está longe de ser uma censura, de proibir qualquer coisa, por favor!, e acho que se aplica bem ao caso, como me lembrou uma amiga.

Explico: Numa salinha de reunião, uma equipe multidisciplinar de homens e mulheres comuns (veja só a simplicidade da coisa) poderia analisar o conteúdo de mensagens com potencial misógino e preconceituoso antes de torná-las públicas. São aquelas mensagens cheias de clichês e piadinhas prontas à moda do século passado, que só atrasam a igualdade de gênero, a liberdade do feminino, etc. À portas fechadas e em meio a pilhas enormes de dossiês (porque trabalho não falta), esse grupo, tipo a Liga da Justiça, poderia classificar o tal projeto com dois carimbos: VEF (Vá Em Frente) ou VDM (Vai Dar Merda). É tão simples que não pode dar errado, né?

2 respostas

  1. Paty Moraes tbm salivei de vontade da original bem gelada ! Sem rótulos , e como sempre , mais uma matéria FODASTICA #love você arrasa sempre ! Fica aqui o convite para tomar comigo amanhã no Bixiga ❤️❤️❤️???

  2. Homem = gosto forte
    Mulher = gosto fraco

    Uso de diferenças de sexo, homem mais forte, musculoso, agressividade, para fazer marketing. Não tem nada a ver com restrição a sexo ou com estrogênio, e sim o resultado disso. Entendeu agora? Quer tomar cerveja forte, tome. O marketing continua correto.

    Hoje em dia é meio descolado sair de ofendidinha com tudo.

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