Bianca Andrioli: UIRAPURU

Hoje venho apresentar um coquetel que eu criei esse mês para um campeonato. O nome dele é Uirapuru e a inspiração para cria-lo veio da Semana de Arte Moderna de 1922. Mais precisamente um poema sinfônico de Heitor Villa-Lobos e sua homenagem a uma das lendas do nosso folclore. Para quem ainda não conhece, eu vou contar um pouco agora.

O Uirapuru é uma ave presente na floresta amazônica que possui diversos simbolismos para a cultura brasileira. O nome uirapuru vem do tupi-guarani e significa “pássaro que não é pássaro”. A importância da ave para a cultura brasileira, está ligada ao folclore e tradições orais transmitidas entre gerações dos povos originários. Posteriormente, uma dessas lendas inspirou Heitor Villa Lobos a compor um poema sinfônico homônimo a ave fazendo uma releitura desta lenda que eu vou contar agora para vocês:

– Era uma vez, um jovem índio chamado Quaraçá, que era muito talentoso com a flauta e apaixonou-se pela linda Anahí, que era casada com o cacique. O amor deles era proibido e tomado pela tristeza, Quaraçá resolveu pedir ajuda do deus Tupã, a fim de conseguir ficar próximo a sua amada. Eis que Tupã, sensibilizado com a tristeza do rapaz, o transformou em um pássaro com canto único e deu-lhe o nome de Uirapuru.

Todas as manhãs e entardeceres, o Uirapuru ia cantar para Anahí. Até que um dia, o cacique quis aprisionar o pássaro a fim de ter seu belo canto só para si. O cacique adentrou a floresta atrás do pássaro, montou diversas arapucas, porém não conseguiu capturar o Uirapuru. Depois disso, o cacique nunca mais foi visto…. Dizem que o curupira o castigou, pois ele detesta quem maltrata os animais e destrói a natureza.

Todos os dias o Uirapuru ia visitar Anahí, na esperança de que ela reconhecesse seu canto melancólico e quebrasse o encanto sobre ele. Dizem que em respeito ao amor dos dois, todos os outros animais ficam em silêncio para ouvi-lo cantar. Os nativos da região amazônica acreditam que, por cantar durante 15 minutos sem repetir uma nota na melodia, ele pode ser uma figura sobrenatural. Aquele que ouvir o canto do Uirapuru, assim como quem vê uma estrela cadente, pode fazer um pedido, que este será realizado.

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O uirapuru atualmente é uma ave ameaçada de extinção(!) devido a diversas crendices relacionadas a ele. Acredita-se que enterrar um uirapuru na porta de um estabelecimento comercial traria freguesia e felicidade para seu dono.

Com esse coquetel, busco, assim como os artistas presentes na Semana de Arte Moderna de 1922, honrar e divulgar a cultura brasileira. Trazendo tanto a atenção a transmissão de tradições via oral, nosso folclore, nossa fauna e flora, nossa música, figuras ilustres & crendices populares.

Heitor Villa Lobos (1887 – 1959) foi um compositor, maestro e um dos grandes representantes do campo da música durante a Semana de Arte Moderna de 1922. Sua obra impressiona pela riqueza de detalhes e nos transporta para ambiente que reflete a beleza da flora e fauna brasileiras.

Convido vocês a provarem o UIRAPURU e fazer um pedido ao bebê-lo, pois definitivamente, cachaça é felicidade.

A cachaça branca Pindorama, nosso elemento principal e agente antropofágico nos traz toda a brasilidade da cachaça com a presença marcante de cana fresca. A banana por sua facilidade de encontrar em todo país foi um critério importante para utilização dela no coquetel. E a escolha da produção de saccharum surge a partir da necessidade da sustentabilidade e a busca por aplicá-la também na coquetelaria. (Peguei essa receita de saccharum do @gypsycocktails, que gentilmente permitiu que eu utilizasse na receita. Obrigada Tom, você é incrível. <3)

Receita

– 70ml de cachaça branca Pindorama

– 20ml de suco de limão tahiti

– 20ml de saccharum de banana

– 08ml de licor amargo com côco desidratado e cumaru

Modo de preparo: Em uma coqueteleira adicione todos os ingredientes com gelo e bata. Retire o gelo da taça e fala uma coagem dupla. Finalize com chips de banana salgados.

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Receita Saccharum de casca de banana

– 200g de casca de banana

– 01un de banana amassada

– 200g de açúcar demerara

Coloquei tudo em uma bacia de inox e deixei por 24h. Isso foi o suficiente para gerar um xarope bem denso, saboroso e sustentável.


Licor Stomatico com côco e cumaru

A fim de trazer mais brasilidade ao coquetel, peguei o amaro brasileiro e infusionei com côco e cumaru para “amaciar” a presença alcoólica e destacar ainda mais a nossa queridíssima cachaça.

– 740ml de Amaro Stomático San Basile

– 120g de coco desidratado

– 01 un de fava de cumaru

Coloquei o coco e a fava macerada dentro da garrafa de Amaro e deixei infusionar por 48h protegido da luz para liberar os óleos presentes no coco e extrair um pouco das notas amendoadas e de baunilha do cumaru.

Chips de banana

Pensando na cultura de boteco quis algo salgado para beber junto ao coquetel. Essa receita foi criada pelo meu maravilhoso colega de trabalho Bruno Bertolo, que prontamente me ajudou a concretizar o coquetel Uirapuru e um grande motivador, tu é incrível querido! ❣

– banana verde ou banana da terra em rodelas

– óleo para untar

 

Em uma assadeira untada coloque a banana sem sobrepor e leve ao forno médio pré-aquecido por 10 minutos. Vire as rodelas e deixe por mais 10min. Retire, deixe secar e salgue a gosto.

– Beba com moderação e sempre se hidratando com água.

– Seja responsável, beber e dirigir não combinam.

Tem algum assunto que gostaria de saber? Manda um e-mail para bianca.andrioli@icloud.com

Bianca Andrioli

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Imagens 02 a 04: Arquivo pessoal da colunista

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