Crítica: Downrange (2017)

Nome de certa bagagem dentro do gênero horror, com títulos no currículo como o eficiente Ninguém Sobrevive (No One Lives, 2012) e O Trem da Morte (uma certeira adaptação da obra do escritor Clive Barker estrelada por um Bradley Cooper pré-estrelato), o japonês Ryûhei Kitamura volta à cadeira de diretor com este direto e rasteiro thriller Downrange (EUA, 2017), produção que evoca inúmeras produções semelhantes dentro de seu subgênero, especialmente o sólido Wolf Creek: Viagem ao Inferno (Greg McLean, 2005), filme que deu origem à uma sequência e uma série de TV, e que também revelou um dos mais letais e asquerosos serial-killers do cinema, na figura do caipira australiano Mick Taylor, interpretado de maneira inesquecível e aterradora pelo veterano John Jarratt.

Em Downrange, Kitamura recicla a fórmula ao retratar a jornada de um grupo de estudantes que durante uma viagem de carro, acabam perdidos em uma estrada isolada depois que o pneu do carro estoura. Quando um dos membros do grupo constata que o pneu furado não se trata de um acidente, eles começam a ser alvejados por um atirador, que estava apenas esperando que alguém aparecesse em seu território. Agora, o grupo terá de travar uma intensa batalha contra o sádico e invisível inimigo, para conseguir sobreviver.

Kitamura faz um interessante trabalho de câmera em Downrange. O diretor capricha nos movimentos vertiginosos e dinâmicos, repletos de giros e rotações, como se a câmera refletisse o atirador mirando e disparando em seus alvos humanos, que precisam ser ligeiros se quiserem respirar mais uma vez. Kitamura e seu co-roteirista Joey O’Bryan (da produção nipônica Rupan Sansei, também de Kitamura), são extremamente econômicos em sua narrativa. O filme não introduz os personagens e a carnificina já começa logo de cara, com a turma dentro do carro, o pneu estourando e depois… bem, depois é correr porque lá vem tiro! É como se Kitamura soubesse porque seu espectador está ali, e que é sangue o que ele quer. Então é sangue que o japonês entrega.

Downrange já vem completamente despido da bagagem emocional de tantos outros filmes semelhantes dentro do cinema de horror. A produção não tem nada da papagaiada que tenta fazer com que o público escolha seus favoritos dentre as vítimas, quem vai viver ou morrer. O que temos aqui é essencialmente seis estranhos em um grupo, sendo que um casal dentre eles é o único fator que eleva um pouco o emocional do filme.

O filme segue na toada da tensão pelo imprevisto, que consiste no fato do público não ter a mínima ideia de onde ou quando virá ou em quem será o próximo tiro. O efeito é eficiente e funciona, ao contrário da ideia de Kitamura de injetar alguns momentos de humanidade em sua trama, numa maneira de fazer o público se identificar com os pobres infelizes na mira do atirador. O elenco jovem e genérico pouco contribui para que este efeito humanizador pensado por Kitamura funcione dentro da narrativa. O mesmo pode ser dito das “mensagens sociológicas” que pingam aqui e ali na trama, como por exemplo, o fato de que cada um dos personagens negros, desde um dos estudantes até o “oficial de polícia precavido” da vez, volta e meia são deixados para trás por seus “amigos” caucasianos e acabam tendo que se virar sozinhos. Ou talvez, em tempos de mimimi exacerbado, eu esteja sendo apenas excessivamente observador.

Mas, para a alegria geral da nação, à medida em que o filme caminha para sua reta final, Kitamura amplifica a violência e o gore. A produção ganha um tom maldoso, onde nem os mortos escapam fácil do castigo imposto pelo sniper sanguinário, deixando bem claro que ninguém está a salvo neste isolado trecho de estrada. Não há explicações sobre as motivações do atirador, não há discurso ou monólogo que dê motivos para o massacre que acontece em cena, e a única certeza que fica é que ele já vem fazendo isso há algum tempo.

Os fãs mais exigentes do horror podem até se sentir um tanto enganados, já que Kitamura deixa de lado várias convenções do gênero para focar em entregar um rápido, rasteiro e maldoso thriller de sobrevivência encharcado de sangue. E se esse realmente era o objetivo de Kitamura com seu Downrange, o diretor foi altamente bem sucedido. Entre os momentos de tensão de roer as unhas, e o gore que escorre aos litros pelas fendas da televisão, quem ganha é o fã de horror.

Downrange não tem previsão de estreia nos cinemas brasileiros, e deve chegar ao país diretamente em serviços de streaming e VOD.

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