Crítica: Woman Walks Ahead (2018)

Quem me conhece um pouquinho e bate papo comigo de vez em quando, sabe de minha admiração pela atriz Jessica Chastain, minha atriz preferida já há alguns anos. Esta californiana de 41 anos, dona de fenomenal talento e radiante beleza, trilhou seu caminho em Hollywood em um tempo até que curto, se levarmos em conta que seu primeiro papel de relativo sucesso foi em 2011 no filme O Abrigo (Take Shelter).

Desde então, foram diversas atuações, sempre competentes, em filmes como A Árvore da Vida (The Tree of Life, 2011), Histórias Cruzadas (The Help, 2011), Os Infratores (Lawless, 2012), A Hora Mais Escura (Zero Dark Thirty, 2012), Interestelar (Interstellar, 2014), A Colina Escarlate (Crimson Peak, 2015), até o recente A Grande Jogada (Molly’s Game, cuja crítica você também pode conferir aqui no Portal do Andreoli). Vale lembrar que Chastain provavelmente será a protagonista da sequência do megahit de horror It: A Coisa, que chegará aos cinemas em setembro do ano que vem. Enquanto esperamos para saber se isso se concretiza, deixo a dica para que confiram minha crítica do primeiro filme aqui mesmo no Portal do Andreoli.

Depois de tanta rasgação de seda para a atriz (minha esposa não deve ter gostado muito disso), não é surpresa afirmar que é justamente Jessica o chamariz e o principal motivo para se assistir este western peculiar e intimista Woman Walks Ahead (EUA, 2018), produção que no geral agrada mas que poderia render mais, principalmente se levarmos em conta os nomes envolvidos na produção, como o excepcional roteirista Steven Knight (Senhores do Crime, Locke), e os produtores Edward Zwick e Marshall Herskovitz (O Último Samurai).

O título de Woman Walks Ahead parece deliberadamente evocar o neo-clássico Dança com Lobos (Dances With Wolves, 1990), e assim como o marco do gênero dirigido e protagonizado por Kevin Costner, também consiste em um conto sobre uma ponte humana construída entre representantes de duas diferentes culturas. Neste caso, os indivíduos são reais, e o filme transmite tanto uma nova perspectiva sobre os últimos dias do Velho Oeste, como também a chance de resgatar estes indivíduos e retirá-los do esquecimento histórico. Há suficiente bravura nesta história para contrastar com uma certa apatia da narrativa, que até parece intencional na maneira com que simplifica a complexidade destes eventos verídicos. A conclusão resulta em uma robusta reflexão sobre o inimaginável flagelo vivido pelas tribos nativas americanas, nas mãos de uma violenta e intrusiva nação branca.

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Dirigido pela britânica Susanna White (do thriller Nosso Fiel Traidor, 2016), o filme conta a história da intrépida viúva Catherine Weldon (Chastain), que decide partir rumo ao oeste americano no ano de 1890, com a intenção de pintar um retrato do líder indígena Touro Sentado (Michael Greyeyes, de O Novo Mundo, 2005), o homem responsável por liderar durante vários anos a resistência de seu povo contra as políticas do governo norte-americano. Entretanto, ela é aconselhada a desistir e voltar para casa por um militar veterano (o vencedor do Oscar Sam Rockwell, de Três Anúncios Para um Crime, cuja crítica você também pode conferir aqui no Portal do Andreoli), preocupado pela falta de conhecimento demonstrada pela viúva, que desconhece os atos violentos cometidos pelas tribos nativas americanas, ou mesmo o ódio amargo que existe entre as duas etnias, o que colocaria sua vida em risco.

Woman Walks Ahead é na realidade uma história sobre desafiar as expectativas, encontrar equilíbrio e ganhar conhecimento, e o roteiro de Knight traz também uma boa dose de humor afetuoso para com sua protagonista, utilizando-se de sua ingenuidade mas também destacando a enormidade e a valentia de sua decisão de viajar completamente sozinha por um território considerado hostil.

Quando Catherine encontra Touro Sentado pela primeira vez, ela tenta impressioná-lo recontando sua árdua jornada através do vasto território para chegar até ele.
“Quer dizer então que você pegou o trem de Nova York até aqui?” responde o índio, mostrando para Catherine que ele nem de perto lembra o selvagem imaginado por ela. Na verdade, trata-se de um homem maleável, pragmático, e que tem total ciência de sua posição de bravo guerreiro transformado em plantador de batatas em uma reserva controlada pelo homem branco. Resumindo, um pagamento de apenas U$1.000 acaba garantindo à ela o direito de pintar o retrato do homem.

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O crescente respeito e amizade entre Catherine e Touro Sentado é o coração do filme, e a interpretação adoravelmente petulante de Chastain aliada à figura carismática de Greyeyes rendem maravilhas ao filme. As transformações de ambos os personagens enriquecem a produção e ajudam a mesma a se tornar mais séria à medida em que se desenrola, especialmente quando Catherine começa a pagar o preço por apoiar os nativos americanos em suas tentativas de desafiar a introdução de um novo tratado que se aprovado, tomará ainda mais do já mutilado território indígena.

Fotografado de maneira excepcional por Mike Eley (do recente drama Minha Prima Raquel), Woman Walks Ahead encontra beleza nos límpidos céus azuis do coração do oeste americano, e estressa a vastidão de uma terra que parece grande o suficiente para abrigar tanto os nativos quanto os forasteiros, mas que poucas vezes foi capaz de fazê-lo.

“Sempre há neve nas montanhas?”, indaga uma eternamente curiosa Catherine em um dado momento do filme. Ela então é informada pelo indígena que o branco que ela vê ao longe nas montanhas são os ossos dos búfalos caçados até a extinção pelos pioneiros brancos. Tal colocação pode até ser metafórica, mas foi pungente o suficiente para plantar as sementes do eterno compromisso e da luta de Catherine pelos direitos dos nativos americanos, que ela defendeu pelo resto de sua vida.

Woman Walks Ahead ainda não tem previsão de estreia nos cinemas brasileiros, e deve chegar ao país diretamente através de serviços de streaming e VOD.

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