Imagine o seguinte cenário – um carregamento de cocaína é despejado por um avião em um Parque Nacional, mas quem o encontra não é a polícia e muito menos um civil, e sim um urso negro (espécie conhecida por seu comportamento pacífico) que ao ingerir uma quantia considerável da droga, torna-se agressivo e começa a assassinar pessoas em série.
O que pode parecer uma loucura descabida e utópica à primeira vista é, na verdade, a premissa do filme “O Urso do Pó Branco”, que estreou nos cinemas brasileiros na quinta-feira (30) e está deixando o público chocado com seu script inusitado, e a parte mais chocante disso tudo é que, acredite ou não, o filme é inspirado em uma história verídica.
Em 1985, na Geórgia, Estados Unidos, um narcotraficante carregava quarenta pacotes de cocaína em um avião e descartou as drogas em uma floresta, que foram encontradas por um urso. Ao contrário do que acontece no filme, o animal, após consumir o conteúdo dos pacotes, acabou tendo uma overdose e morreu. Mas esse desfecho não se repete no roteiro assinado por Jimmy Warden (A Babá: Rainha da Morte), que imagina – claramente extrapolando bastante na sua liberdade criativa – não só como o narcótico agiria no organismo do urso, como também o grau estratosférico de ferocidade que seria despertado nele através desse consumo.
Apesar de tudo, o roteiro conhece bem suas próprias limitações, para além do baixo orçamento. Afinal, como levar 100% a sério a ideia de um urso chapado que mata pessoas alucinadamente? É, no mínimo, bastante risível. Felizmente, essa comicidade é utilizada pelo próprio roteiro e direção de Elizabeth Banks (As Panteras) para construir um filme que se vale do humor besteirol inerente a seu enredo para dar progressão à história, ainda que mire no subgênero do terror trash e consiga, também, estabelecer certa fluidez com a tensão típica de filmes de horror.
Tudo isso dentro dos limites em que se propõe, mesmo porque, nem a história busca provocar grandes reflexões ou demandar muito esforço intelectual para desvendá-la, nem seria razoável da crítica ou público exigir que assim fosse. O filme é o que se propõe a ser: bobo e hilário. Um entretenimento fácil que resgata a essência de um filme trash dos anos 80 ou 90 – apesar de se descolar um pouco dessa definição por estar criando suas polêmicas no mainstream (a grande massa de público e consumo), e não fora dele – acrescentando, ainda, um pouco de comédia besteirol para reafirmar aquilo que é. Nesse caso, O Urso do Pó Branco pode ser considerado um daqueles famosos filmes que, segundo a máxima popular, “são tão ruins que acabam sendo bons”.
Vale ressaltar que, nesse formato, em que a trama cambaleia entre terror e comédia sem necessariamente assumir um lado, o desenvolvimento das personagens também ficou prejudicado. É como se cada um fosse brevemente inserido à história para dar progressão a ela, mas sem sentido próprio, ainda que seus backgrounds sejam relativamente interessantes. A somatória desse roteiro que se vale apenas do humor e da busca frenética por sangue, juntamente à falta de aprofundamento, criam um filme que tem a profundidade de uma colher.
Apesar de tudo, os absurdos são muito bem trabalhados no decorrer da história, fazendo com que seja muito fácil rir com ela; isso está absolutamente alinhado ao objetivo do longa-metragem, que é ser um entretenimento fácil que cativa pela quantidade de loucuras que aborda. Ou seja, o filme é de fato ridículo, uma distração fácil e até mesmo transmite certa vergonha alheia em algumas cenas, mas consegue entregar a diversão esperada.
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Imagens: Foto divulgação do filme: “O Urso do Pó Branco”