Fábio Muniz: “Tudo vai ficar bem…”

Bom dia a todos vocês!

Você já se pegou dizendo, “Será que um dia vamos voltar à normalidade? ” “Será que um dia tudo isto vai passar? ” E mais ainda: Você é um destes indivíduos que parece que já até se esqueceu de como era a tal “normalidade”?

Ora, aproximadamente 2 anos atrás quando a COVID-19 começava a ser notícias nos jornais de todas as partes do mundo, jamais imaginaríamos que 2 anos depois dos primeiros sinais de uma pandemia sem precedentes, ainda estaríamos extremamente aflitos, jovens ainda tomando todos os cuidados e “exageros” necessários para cuidar dos seus avós ou pais para não expor-lhes ao vírus. Aliás, alguém com idade avançada ou com comorbidades, já sabemos, que a experiência do vírus pode ser fatal. E o que dizer do contexto desastroso no setor hoteleiro e turístico? E o que falar do setor cultural tais como museus, cinemas e teatros? E o que falar dos restaurantes, bares e cafés?

Pois bem, eu escrevo esta coluna pensando em Juliana de Norwich.

Você já ouviu falar dela?

Nunca? Não tem problema…

Eu estou aqui para escrever e te conto rapidamente quem foi Juliana de Norwich…

Juliana de Norwich (1342-1416)

Juliana viveu a maior parte da sua vida no século XIV, entre os anos 1342 e 1416. Ela nasceu em Norwich, no Reino Unido. Caso você nunca tenha ouvido falar de Juliana, muito provavelmente você não sabe que o primeiro livro escrito na língua inglesa por uma mulher foi de Juliana: “Revelations of Divine Love”.

Na realidade quando Juliana completou 30 anos a sua vida foi marcada por um episódio que faria dela uma mulher que nunca mais seria a mesma…

E talvez você me pergunte, “O que aconteceu com ela, Fábio?”

Ora, uma doença mortal lhe assolou. Você pode imaginar os recursos no século XIV? Às vezes nos esquecemos que vivemos no século XXI. Às vezes pensamos que o mundo começou ontem. Às vezes nos esquecemos que os recursos tecnológicos, científicos, e esta geração Internetiana e Facebookiana existe desde sempre.

Voltando à Juliana…

Dizem que um sacerdote foi chamado para dar-lhe a Santa Unção, pois ela estava na iminência de morrer. No entanto, algo indizível e inexplicável aconteceu. Ela sobreviveu e teve uma experiência divina que transcendia o natural e ordinário do ponto de vista humano.

Ora, a sua oração naquele momento era, “Quero apenas amar mais ao Senhor e viver um pouco mais para servir-Lhe”.  Assim Deus ouviu a sua oração…

Talvez você me pergunte, “Fábio porque você começou falando do COVID-19 e depois interrompeu o fluxo do texto para nos apresentar a Juliana de Norwich que eu nunca ouvi falar?

Pois bem, a razão é muito simples: O que você ainda não sabe é que ela viveu durante o período pandêmico mais devastador registrado na história humana. Isto mesmo.

Ela viveu no período da chamada “Peste Negra” que ceifou quase 200 milhões de habitantes na Europa. Ela viveu no período que a população da Europa foi reduzida para quase 60% devido à este cenário tenebroso dentro de um dos golpes mais brutais que a a civilização humana já sofreu…

Quadro que simboliza o período de profundo luto e desespero na Europa: Peste Negra (1347-1351).

Escrevendo hoje do continente Europeu, não consigo imaginar o que significa esperar quase 200 anos para se recuperar e ter novamente o mesmo nível demográfico anterior da pandemia. Você pode imaginar? São mais ou menos três ou quatro gerações…

Conquanto tenha sido uma mulher de fé, uma mulher inteligente, uma mulher de profunda resiliência, uma mulher de experiências místicas e que transcendia a esfera natural das coisas…

A sua familia inteira foi visitada pela praga, e veio a falecer…

E as notícias tristes não paravam de chegar, pois 1/3 da sua cidade, Norwich, foi sucumbida e ceifada pela peste também…

De modo que eu gostaria ainda de dizer que Juliana é reconhecida como o símbolo de fé e de inspiração contra o apesar de tudo e contra o momento pandêmico mais assustador que o mundo já provou. E mais ainda: Juliana de Norwich é percebida com muito carinho pelo movimento celta, pelos cristãos católicos, e reconhecida como teóloga e escritora, inspirando as vertentes protestantes anglicanas e luteranas.

E o que tem a ver conosco, Fábio?

E o que tem a ver com você na Europa, comigo no Brasil, ou nos Estados Unidos, ou caso você esteja me lendo do Japão…

Você já ouviu ou leu a expressão “Vai ficar tudo bem”?

Ora, no início das cenas de profundo luto, de desespero e pavor do desconhecido COVID-19, os italianos começaram a colocar nas varandas e sacadas muitas faixas onde era possível ler “Andrà tutto bene”…

Tal frase foi dita, escrita e recitada por Juliana de Norwich e pode ser encontrada no seu lindo poema-oração, “All will be well”…

Poema-oração que carrega o luto e a esperança. Poema-oração que carrega lágrimas e sorriso. Poema-oração que lamenta pelo passado, luta no presente, e sonha com o futuro…

Eu já estou terminando. Eu tanto quanto você temos queridos que partiram e nos deixaram muitas saudades. Caso você não tenha tido esta experiência tão próxima de dor indizível, no mínimo você conhece alguém que tenha tido tal experiência.

No mínimo você tem se compadecido das centenas de notícias e pessoas que estão estampadas nas manchetes dos jornais ou páginas de notícias dos canais Web.

Por exemplo: casos de gente que deu a luz a um filhinho lindo, mas jamais viu a face angelical do seu bebê porque o COVID-19 não lhe deixou. Gente que o sonho de se casar foi bruscamente interrompido. Gente que tampouco conseguiu dar um último abraço no seu cônjuge que vivera ao seu lado por décadas e décadas….

Contra o apesar de tudo, eu estou aqui com muita dor e esperança para dizer que “All will be well”…

Eu fico por aqui. Na semana que vem eu voltarei, para mais uma vez, “contra o apesar de tudo”, trazer uma palavra de esperança e fé, resiliência e perseverança, coragem e paciência porque “Tudo vai ficar bem”…

Até a próxima.

Fábio Muniz

Lyon, França

 

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Imagens: Freepik e Arquivo do colunista

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