Lilian Schiavo: Sonhar é preciso

Tenho o privilégio de conviver com verdadeiros exemplos de superação e às vezes sinto a necessidade de contar um pouco das suas vidas, não é para fazer fofoca, mas sim para te inspirar a acreditar em você mesma.

Tenho uma amiga portadora de dislexia e durante o período escolar foi tratada como se tivesse algum tipo de deficiência, achavam que ela era incapaz e o diagnóstico só foi descoberto quando ela já era adulta.

Passou boa parte da vida se achando inferior, não entendia o que acontecia com ela, levava mais tempo que os outros para executar as tarefas… dizer que sofreu bullying é pouco.

Mas ela nasceu com espírito de lutadora, se acostumou a conviver com suas dificuldades, sem ligar para o que os outros diziam e foi assim que terminou os estudos, se formou em joalheria e se transformou numa proprietária de uma empresa de jóias autorais.

Quem teve a oportunidade de usar seus anéis, colares e pulseiras sabe o diferencial do seu design inovador, as peças eram absolutamente confortáveis, pareciam que foram moldadas para você, esteticamente encantadoras e originais.

Namorou, casou, teve um filho e seguiu a vida como aquela música “todo dia ela faz tudo sempre igual”…

O que ela tinha de diferente não era a dislexia, era um inconformismo, uma vontade de mudar tudo, de mudar de vida, uma mania de levantar de cada tombo com um sorriso no rosto.

Um dia tivemos que viajar para a Argentina a trabalho e percebi que ela não falava nenhum idioma a não ser o português, claro que nos divertimos muito com isso, mas ela voltou com o firme propósito de falar inglês.

Dizia que ia aprender, prestar um exame de proficiência e fazer faculdade no exterior…. Óbvio que quase ninguém acreditou nela, que apesar dos pesares se matriculou num curso e começou do zero.

Com obstinação sumiu das nossas vidas, se dedicou aos estudos com afinco e foi atrás do seu sonho.

Pesquisou na internet e resolveu que queria se mudar de mala e cuia, com o marido e o filho para o Canadá, simples assim!

Teve que tirar passaporte, pedir visto, fazer o exame, testes de Covid-19, buscar informações sobre universidades e casas para alugar.

No dia em que o resultado do teste de proficiência saiu, a secretária da escola ligou para ela chorando de emoção, todos sabiam o quanto ela havia se esforçado…valeu a pena, ela conseguiu!!!

Depois, teve que escolher o que levar para a nova vida, tiveram que vender ou doar muitas coisas que antes pareciam tão importantes e agora virariam apenas lembranças.

Praticou o desapego de tudo, de móveis, objetos, roupas, amigos e família. Passou a focar nos novos desafios.

Foi admitida numa universidade do Canadá.

Antes de viajar, marcamos um café, queria saber como ela se sentia, se estava com medo ou com frio na barriga.

Ela estava tranquila e sorridente, feliz da vida por ter conquistado um sonho que ninguém acreditou. E o melhor, havia feito tudo sozinha!

Um misto de orgulho, felicidade e um pouquinho de incredulidade, afinal, só chegando lá é que a ficha iria cair. Por enquanto era esperar o dia da partida.

Tiramos uma foto que não pude publicar na época porque ela não havia conseguido se despedir de todo mundo e não queríamos deixar ninguém chateado, aliás, vou publicar na semana que vem só para contar que finalmente ela chegou no Canadá, está tudo bem, o lugar é muito bonito e segundo ela, o povo parece simpático.

Durante todo o tempo que convivi com minha amiga, percebi algumas características marcantes, ela não se incomodava com o que os outros pensavam, era extremamente leal e sincera, não resmungava de nada mas agradecia por tudo.

Também tinha um jeito peculiar de dizer as verdades sem filtro, doa a quem doer, cheguei à conclusão que às vezes isso faz um bem enorme, evita gastrites e dores no coração.

Claro que estou com saudades dela, mas fico muito feliz por saber que ela realizou seu objetivo com muita coragem e ousadia.

“Nós somos do tecido que são feitos os sonhos.” William Shakespeare

 

 

Lilian Schiavo

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Imagem: Freepik

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