Crítica: Ao Cair da Noite (It Comes At Night)

Você já ouviu falar na produtora americana A24? Não? Não tem problema, porque em breve, você com certeza ouvirá bastante sobre esta nova e energética produtora independente norte-americana, com pouco mais de 60 projetos em seu portfólio. Apostando em novos nomes e diferentes abordagens narrativas dentro do gênero horror, a A24 tem projetos já valiosos em seu currículo, e não só dentro do horror, como por exemplo, o comovente O Quarto de Jack (Room, 2015), o eletrizante Sala Verde (Green Room, 2015), além do amalucado Um Cadáver Para Sobreviver (Swiss Army Man, 2016), o pungente Docinho da América (American Honey, 2016), e nada menos do que o vencedor do Oscar de Melhor Filme deste ano, Moonlight: Sob a Luz do Luar, cujas críticas você pode conferir aqui mesmo no Portal do Andreoli.

Começando a solidificar seus alicerces dentro da cena do horror independente, a A24 acaba de meter os dois pés na porta do gênero, com esta verdadeira pedrada Ao Cair da Noite (It Comes At Night, EUA, 2017), um retrato cru e assustador sobre os lugares escuros e perturbadores onde o indivíduo é capaz de adentrar para proteger os seus. Exibido e ovacionado no valorizado festival de cinema independente Overlook Film Festival deste ano, Ao Cair da Noite marca o segundo filme da carreira do jovem diretor Trey Edward Shults, do já cult-classic Krisha (2015), cuja crítica em breve você poderá conferir aqui no Portal do Andreoli.

De maneira reflexiva e desconcertante, a produção se passa em grande parte dentro e ao redor de uma casa enfiada no meio de uma floresta. Lá vivem Paul (o cada vez melhor Joel Edgerton, do belo drama Loving, cuja crítica você confere aqui no Portal do Andreoli), sua esposa Sarah (Carmen Ejogo, de Alien: Covenant), e seu filho Travis (Kelvin Harrison Jr., de O Nascimento de uma Nação, cuja crítica você também confere aqui no Portal do Andreoli). A família vive escondida, enclausurada dentro do local, para prevenirem-se de um novo tipo de doença altamente transmissiva e perigosa. Paul mantém um rígido esquema de sobrevivência, mas quando as circunstâncias o surpreendem, ele acaba convidando uma outra família para viver no local. E o que à princípio parecia a decisão mais correta e altruísta a se tomar, logo começa a causar tensão e desconfiança no ar.

Ao Cair da Noite é o tipo de produção onde gore e ação com certeza poderiam trazer bastante intensidade em um cenário como o do filme. Porém, o alto nível de suspense da produção independe das vertentes citadas, graças à sua narrativa de atmosfera tétrica, e o desenvolvimento de seus poucos mas profundos personagens, o que valoriza o roteiro certeiro do próprio Shults. Desde o início, Shults deixa bem claro para o público o quão complicada a situação da família realmente é, o que causa o entendimento imediato por parte do espectador do que Paul é capaz de fazer para manter sua família a salvo, e também do quão próximos os membros desta família são, o que faz com que a doença do filme seja assustadora, mas ainda mais assustadora, é a possibilidade dos membros desta família perderem um ao outro.

O sinistro score musical e o visual tétrico da produção colaboram com seu resultado impactante, cerceado por um poderoso mistério. Incluindo aquela arrepiante porta vermelha e algumas sequências tomadas pela quase total escuridão, que causam a sensação de estar-se preso no local junto das famílias protagonistas, em um pesadelo tenso do início ao fim.

E apesar de todas estas qualidades, o grande trunfo da produção reside nas performances de seu pequeno elenco. Como sempre, Edgerton mostra-se um mais do que sólido protagonista, no papel de um homem capaz de exercer firme liderança, mas que ao mesmo tempo revela-se vulnerável, graças ao seu amor pela família e também por sua decência. Entretanto, as duas grandes performances do filme pertencem ao citado Harrison Jr., e também à Christopher Abbott (da série da HBO Girls), e que aqui interpreta o chefe da família abrigada por Paul. Completamente imerso no personagem, Abbott revela-se um intérprete pronto para grandes papéis em Hollywood, enquanto que Harrison Jr., interpreta o personagem mais imprevisível da produção, o que faz com que sua história seja a mais impactante do filme.

Quem me conhece e segue meus textos sabe de minha predileção pelo gênero horror, e eu não me importo com sangue e vísceras, pelo contrário. Mas realmente não há nada mais assustador do que um conto puramente sobre a luta para salvar aqueles a quem você ama. Shults poderia ter utilizado qualquer outra ameaça que não fosse a citada doença, e o filme ainda assim funcionaria perfeitamente. Ao Cair da Noite é uma experiência cinematográfica inesquecível e atordoante, imperdível para os fãs do bom cinema.

Ao Cair da Noite estreia nos cinemas brasileiros no dia 22 de Junho.

2 respostas

  1. Ah, estava com um pouco de expectativa sobre o filme. Pensei que fosse ver algo de diferente. Mas nada de novo. Mas o filme é bem bom, bem tenso e envolvente. So que esquecível

  2. Assombroso de uma forma peculiar e com atuações monstruosas Devo reconhecer que Ao Cair da Noite, foi uma surpresa pra mim, já que apesar dos seus dilemas é uma historia de horror que segue a nova escola, utilizando elementos clássicos. Com protagonistas sólidos e um roteiro diferente.Ao Cair da Noite’ é filme de terror incomum e inteligente O filme é bacana! Muito bom quando um filme consegue despertar emoções poderosas como a angústia. quando eu quero ver um filme eu assisto em https://br.hbomax.tv/movie/TTL616539/Ao-Cair-Da-Noite Cair Da Noite é um filme muito confuso kkk eu gostaria realmente de entender esses sonhos malucos meio premonitórios do Travis o que vc acha?

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