Crítica: Operação Overlord (Overlord) | 2018

Overlord

Antes de qualquer coisa, só para deixar claro de uma vez: Operação Overlord (Overlord, EUA, 2018) não é um filme da saga Cloverfield. Vendido durante praticamente toda sua produção como o novo produto da franquia do monstro que destruiu Nova York, Operação Overlord acabou tomando um rumo diferente dentro da produtora Bad Robot, do todo-poderoso J.J. Abrams, padrinho da franquia do monstrão. Provavelmente tal mudança tenha ocorrido após o retumbante fracasso de crítica da sci-fi The Cloverfield Project, lançada na surdina pela Netflix na noite do Superbowl do ano passado, e decepcionando o mundo inteiro na mesma noite.

Ao invés de servir como um novo capítulo do Cloververse (nome dado ao universo da franquia Cloverfield), Operação Overlord prefere abordar um outro tipo de monstro: nazistas. E não apenas qualquer nazista, mas sim CIENTISTAS nazistas, que utilizam soldados capturados e indefesos moradores do vilarejo local como cobaias em seus horripilantes experimentos, criando mutantes super-fortes e mega-grotescos com o intuito de transformá-los em soldados imortais para guardar seu império indestrutível. Humpf… Bem típico dos nazistas mesmo.

Ambientado bem no auge da Segunda Guerra Mundial, o filme já começa a mil por hora com uma tremenda sequência aérea, que serve para introduzir a química entre um grupo de soldados americanos que serão os protagonistas, e para preparar o terreno para o nível de ação que virá à seguir. E o nível é alto, pois basta um ingênuo soldado dizer “Eu espero que nada dê errado“, para é claro, tudo dar errado logo em seguida. Motores explodem, aviões caem do céu, e as balas vêm às centenas rasgando o casco da aeronave e aniquilando boa parte do pelotão em uma questão de segundos. Porém, os soldados têm um trabalho a fazer, e os sobreviventes saltam com seus para-quedas no território hostil abaixo deles, onde legiões de soldados nazistas esperam pelo inimigo.

O filme então foca em um pequeno time de soldados liderados pelo experiente especialista em explosivos, Ford (Wyatt Russell, do suspense Shimmer Lake, cuja crítica também está disponível aqui no Portal do Andreoli), e que conta com outros destemidos soldados, entre eles o residente falastrão (John Magaro, de Marshall: Igualdade e Justiça, 2017), e o coração e alma da operação, Boyce (Jovan Adepo, de Um Limite Entre Nós e Mãe!, cujas críticas também estão disponíveis aqui no Portal do Andreoli), um jovem que de tão puro, não seria capaz de matar nem um rato.

A missão deles é simples: chegar até a igreja do vilarejo local situado na França e explodir a torre de rádio a tempo das Forças Aliadas atacarem as praias da Normandia. Correndo contra o tempo, eles conseguem chegar até a pequena cidade francesa, onde encontram uma garota do local (Mathilde Ollivier), que os ajuda a procurar refúgio enquanto planejam o ataque. A garota ainda encontra tempo para apresentar seu adorável irmão mais novo e sua tia não tão adorável assim, que após serem levados pelos nazistas até a referida igreja, voltaram, digamos… mudados.

Não demora muito para Operação Overlord levar sua narrativa para dentro da igreja, e para em seguida, liberar o inferno para cima do espectador, mantendo o nível de ação bombando o tempo todo. Infelizmente, o roteiro à cargo de Billy Ray (Capitão Phillips, Olhos da Justiça) e Mark L. Smith (de filmes tão díspares quanto o pífio remake do thriller Mártires e da obra-prima O Regresso), investe tempo demais em um segundo ato desnecessariamente lento e abaixo do esperado, uma vez que as monstruosidades são reveladas. O filme também gasta muito tempo dando atenção ao vilão-mor, Wafner (Pilou Asbaek, de A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell, 2017), que bebe da fonte de diversos outros vilões do gênero.

Felizmente, estes desvios narrativos são breves, e são obscurecidos por uma realmente perturbadora cena de transformação (cortesia das misteriosas seringas vermelhas dos nazistas), e também pelo retorno da ação, que quando volta à narrativa, volta com força total até os créditos finais. Vale ressaltar o ótimo trabalho do diretor Julius Avery (do thriller Sangue Jovem, 2014) nas referidas sequências de ação, que estabelecem o estilo heavy-metal do filme desde o início (a sequência inicial, onde Boyce despenca do avião abatido é primorosa), sem falar que Avery incorpora Michael Bay e não economiza nas explosões.

Minha maior crítica à este Operação Overlord, entretanto, está no fato de que o filme parece relutante em se comprometer totalmente com a porção, digamos, mais monstruosa de sua trama (talvez numa maneira de realmente se desvencilhar do nome Cloverfield). A produção oscila entre um filme B de monstro, e uma história pé no chão sobre um grupo de soldados tentando sobreviver aos horrores da guerra. O filme tem relances de efeitos-visuais práticos fabulosamente desagradáveis, e alguns aspectos bem bacanas de histórias sobre cientistas loucos. Mas apenas relances, nunca o pacote completo. Operação Overlord também não se apega muito à suas regras científicas, deixando a viagem na maionese correr solta e eliminando o aspecto surpresa da produção, que esgota logo seu estoque de revelações.

Mas para um filme cujo núcleo narrativo consiste em nazistas mutantes, Operação Overlord até que tem algumas coisas para dizer. Enterrado sob o derramamento de sangue e a química do elenco, esconde-se um filme que discute até onde o soldado está disposto a ir no campo de batalha, quando a guerra bate em sua porta. Entre ser um filme B sobre monstros mutantes ou um drama de guerra permeado por muita ação, Operação Overlord acerta e erra em ambas as vertentes, o que acarreta em um filme movimentado e bem executado, mas que carece de mais pungência e que se ressente de uma identidade própria. Talvez esta identidade estivesse mais presente se o filme integrasse o universo Cloverfield, mas acredito que nunca saberemos de fato.

Operação Overlord será exibido em duas sessões especiais na Mostra Internacional de Cinema de SP 2018, e estreia nos cinemas brasileiros no dia 08 de novembro.

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