Crítica: Assassination Nation (2018)

Assassination Nation

Em 1994, o sempre polêmico diretor americano Oliver Stone lançou o insano Assassinos Por Natureza (Natural Born Killers), uma porradaça protagonizada por Woody Harrelson e Juliette Lewis que atacava diferentes esferas e poderes da sociedade, desde a instituição familiar até a carcerária, passando pela imprensa, etc. Guardadas suas devidas proporções, este Assassination Nation (EUA, 2018) pode ser considerado o Assassinos Por Natureza da geração das redes sociais.

O filme já começa avisando a plateia que o assalto sensorial que estão prestes a experimentar traz um pouco de tudo: assassinato, bullying, tortura, e “frágeis egos masculinos”. Realmente o filme tem de tudo um pouco, ainda que o exagero corte um pouco do impacto da produção. Escrita e dirigida por Sam Levinson (Bastidores de um Casamento, 2011), filho do renomado diretor Barry Levinson, a explosiva produção atira para todos os lados, como um feed de mídia social que nunca para. E apesar da tagline do filme querer indicar como a cidade de Salem “enlouqueceu” depois de um debilitante ataque cibernético, o verdadeiro alvo do filme somos todos nós.

Assassination Nation gira em torno do martírio de Lily Colson (Odessa Young, do drama A Filha, 2015), uma jovem rebelde de 18 anos que circula pelo colégio com suas “parças” Bex (Hari Nef, da série Transparent), Sarah (Suki Waterhouse, de The Bad Batch, cuja crítica você também pode conferir aqui no Portal do Andreoli), e Em (a estreante Abra), enquanto troca mensagens de teor sexual com um homem mais velho (Joel McHale, da comédia Ted, 2012) e deixa seu ingênuo namorado (Bill Skarsgård, o palhaço Pennywise de It: A Coisa, cuja crítica você também pode conferir aqui no Portal), a ver navios. Entretanto, quando um personagem anônimo “vaza” os segredos de Lily online, e também os podres de toda a cidade de Salem, as coisas saem completamente do controle na localidade.

O escândalo começa com as figuras mais importantes da cidade, como o prefeito e o diretor da escola, que tem seus segredos mais profundos expostos após o vazamento de mensagens e e-mails incriminatórios. À princípio, tudo é visto apenas como mais um motivo de piada pelos jovens da cidade, até que os vazamentos começam a atingir a todos. À medida em que os segredos saem à luz, a vida em sociedade desmorona e começa a retaliação violenta. Culpada pelos vazamentos, Lily se torna o alvo de uma perigosa milícia armada, em um cenário de anarquia e violência suburbana total.

O filme de Levinson se desenrola em uma velocidade inacreditável, onde quase todas as cenas são concebidas para imitar a fragmentada natureza da juventude atual. Telas divididas, balões de aplicativos de mensagens e vídeos virais frequentemente dão as caras na tela quando as garotas não estão reunidas para discutir os devastadores efeitos dos vazamentos virtuais em suas vidas. O diretor Levinson luta para conseguir sustentar o crescente e numeroso elenco, mas acaba caindo no uso de diálogos que ilustram perfeitamente porque é impossível para pessoas criadas em um mundo análogo, compreender totalmente a dimensão de escândalos envolvendo vazamento de informações.

De vez em quando, costumamos ouvir que “é impossível parar a internet”. De fato, mesmo o filme de Levinson não consegue conter o seu tema. Enquanto que Assassination Nation mira em ser um testamento sobre a loucura da primeira geração online, o roteiro não acompanha a pretensão. Cada cena parece tentar abordar uma grande ideia, mas nunca chega a desenvolvê-la completamente, e apesar do caos que se espalha no terço final trazer bons momentos ao filme, Assassination Nation funciona melhor quando está mais preso ao mundo real.

A questão é que quando a violência do ato final explode, a credibilidade do filme vai embora, e Assassination Nation se transforma em uma inferior variação dos thrillers da franquia Uma Noite de Crime (The Purge), onde bandos armados até os dentes vão até a casa de Lily procurando retribuição. Ainda que esta reviravolta em cima do tema do abuso da internet intensifique os temas do filme, tudo é feito de maneira desastrada demais, prejudicando a citada credibilidade da produção. Ainda assim, mesmo com Levinson forçando a barra, Assassination Nation consegue segurar o espectador. Seja pela violência exageradamente visual e gráfica, pelo elenco jovem e bonito, e pela conclusão atual que funciona como um brilhante lembrete de que a estabilidade de uma nação não depende de seu progresso tecnológico.

Assassination Nation chamou a atenção do grande público após sua estreia no festival de Sundance, onde abocanhou o maior acordo de distribuição desta edição do festival: U$10 milhões pagos pela distribuidora Neon e pela AGBO, produtora dos irmãos Joe e Anthony Russo, responsáveis pelo arrasa-quarteirões da Marvel, Vingadores: Guerra Infinita. Considerando a falta de estrelas no elenco deste Assassination Nation assim como sua narrativa nada convencional, tal compra pode parecer uma aposta arriscada. Contudo, não é surpresa que a vasta quantia gasta pelos produtores nesta edição do Sundance tenha sido em um filme que incita e celebra o excesso em um único e caótico pacote.

Assassination Nation não tem previsão de estreia nos cinemas brasileiros, e deve chegar ao país através de sistemas de streaming e VOD.

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